quinta-feira, 16 de julho de 2015

Transporte Coletivo de Rio Branco em 1992: As boas lembranças



Não existe uma máquina capaz de fazer voltar no tempo. Mas graças a Deus existem as fotografias e os jornais impressos para nos ajudar a recordar o passado bem como ter noção de uma época que nossos sobrinhos, filhos ou amigos não conheceram ou presenciaram.

Quero compartilhar aqui, com vocês, uma foto do sistema de transporte coletivo de Rio Branco, capital do Acre. Na imagem do Jornal O Rio Branco de 1992 mostra a parada de ônibus no centro da cidade. A linha 207 era do bairro onde moro - Cohab do Bosque. Há um tempo, desde quando modernizaram o sistema, que mudaram o número da nossa linha para 901 e acrescentaram o Cohab do Bosque/Cadeia Velha. Talvez daí que passei a chamar de “Estado Independente da Cohab do Bosque” -  a potência tupiniquim dos bairros acreanos.  

Lembro com muito carinho das viagens que fazia neles e os itinerários. Apesar de muito pequeno, minha mãe (Dona Lora) levava para o seu trabalho (Palácio das Secretarias) e posteriormente para o “Colégio Menino Jesus” que ficava também no centro. Nessa época eu tinha pouco mais de cinco anos.

A hora mais divertida, sem dúvidas, era esperar o ônibus da "Viação Rio Branco" na parada a poucos metros de nossa casa, embarcar nele e passar por debaixo da roleta segurando com toda força do mundo para não cair. Sentar no fundão era minha sina. Mamãe sempre preferiu sentar lá na frente. Nunca entendia o porquê! Descobri depois de crescido que o balançado do ônibus provoca enjoou nela. Mais o chacoalho era o mais legal, pois fazia um barulho estarrecedor como se o mundo tivesse estraçalhando e o ônibus partiria bem no meio.

Quando descia a ladeira da maternidade, aí tinha que segurar mesmo. Pense num frio na barriga! E sempre ela olhava logo lá atrás pra ver se estava tudo bem comigo. Cansei de apanhar porque a lancheira vermelha com estampa do “Changeman” caia no chão e se abria porque se esquecia de segurar. Chorava mais pelo pânico que ela provocava quando derramava a “Fanta Uva”, ela dizia que eu morreria de sede porque não havia mais líquido para beber na hora de comer a merenda. Eu não queria/quero morrer nunca! Coisas de mães, provocar pânico! Nunca morria de sede, afinal, sempre roubava um pouquinho do colega.

Quando chegávamos já nas proximidades da Praça Plácido de Castro, atual Praça da Revolução, ninguém poderia puxar a cordinha [leia-se ninguém]. Aquele troço era muito alto mais me pertencia. De prontidão colocava no colo, levantava até eu conseguir puxar a bendita corda que saia uma buzina ora engraçada porque fazia um barulho de cigarra, ora chata porque reproduzia um som parecido com o telefone da casa da vovó. A moral? Puxava a corda e num passe de mágica a porta se abria. Que beleza!

A nossa parada final ficava entre o Palácio Rio Branco e o atual Memorial dos Autonomistas. Daí, atravessávamos a rua até chegar ao trabalho dela. Em seguida, depois de guardar algumas sacolas no armário, ela me deixar teclar um pouco na máquina de datilografia (leia-se apertar o espaço até ele fazer o barulho) antes de chegar dona Lenir - a chefa - que normalmente vinha trabalhar com grandes bobs na cabeça e óculos na ponta do nariz. Na realidade eu gostava da dona Lenir, apesar da voz dela ser estranha. Gostava quando chamava de “loirinho lindo”, pois meus cabelos eram grandes, cacheados e bem loiros! De quebra; olhos claros.

Feito todo o ritual, coincidia com o horário da aula. Lembro que descia nas carreias o palácio até a esquina. Quantas vezes embasbacado fiquei ao ver embarque/desembarque dos ônibus ali na frente da Secretaria da Fazenda e antigo prédio da Ótica Ipanema. Achava algo fascinante e amedrontador ao mesmo tempo.

Depois aproximava a melhor hora; comprar chiclete ploc ou babalú. Que cheiro gostoso saia daquela banca! Até hoje funciona na frente do Colégio José Rodrigues Leite. Era nesse momento que mamãe me comprava literalmente. “Esquece o choro no portão do colégio ou nada de ‘Chiclete Ploc”, dizia sempre quando sentava nas escadarias do Colégio já fazendo cara de choro.

O “Ploc” era o meu predito por causa das figurinhas, principalmente aqueles da embalagem verde. Poxa, quanta covardia! Chorava na porta do colégio porque sentia falta dela, não queria nunca perdê-la de vista. Por mais que o parquinho, os coleguinhas e a professora Glória e Ana desviavam minha atenção, eu queria sempre ficar perto da minha mãe. Mas em nome das figurinhas acabava concordando.


Depois de uma tarde no “Menino Jesus”, dona Lora me buscava totalmente detonado de tanto correr pelos corredores. Subíamos a Avenida Benjamin Constant e esperávamos bem na frente da ótica o ônibus 207. O trajeto? Passava direto do colégio acreano, seguia na rua da delegacia da Cadeia Velha, entrava na Avenida Ceará, passava pelo Estádio José de Melo, entrava na Getúlio Vargas assim que descia a ladeira da maternidade, passava bem na frente das Casas Roraima, entrava no Mercado do Bosque e saia na Quintino Bocaiuvas já perto da Casa de Tintas Luciana, e entrava no bairro. Quantas saudades!

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tôni Cristian disse...

Na verdade a imagem é ainda mais antiga pois em 1992 esse ônibus já não existia mais no nosso transporte (assim como todos os Marcopolo Veneza II já haviam sido retirados). A foto é de no máximo do ano de 1986. Pro final de 1985 a Viação Rio Branco renovou a frota e lembro quando criança do desfile dos novos ônibus... nunca esqueci dos nossos 3 novíssimos 97, 98 e 99 na linha 207... que tempos legais!