Não existe uma máquina capaz
de fazer voltar no tempo. Mas graças a Deus existem as fotografias e os jornais
impressos para nos ajudar a recordar o passado bem como ter noção de uma época
que nossos sobrinhos, filhos ou amigos não conheceram ou presenciaram.
Quero compartilhar aqui, com
vocês, uma foto do sistema de transporte coletivo de Rio Branco, capital do
Acre. Na imagem do Jornal O Rio Branco de 1992 mostra a parada de ônibus no centro
da cidade. A linha 207 era do bairro onde moro - Cohab do Bosque. Há um tempo,
desde quando modernizaram o sistema, que mudaram o número da nossa linha para
901 e acrescentaram o Cohab do Bosque/Cadeia Velha. Talvez daí que passei a
chamar de “Estado Independente da Cohab do Bosque” - a potência tupiniquim dos bairros acreanos.
Lembro com muito carinho das
viagens que fazia neles e os itinerários. Apesar de muito pequeno, minha mãe
(Dona Lora) levava para o seu trabalho (Palácio das Secretarias) e
posteriormente para o “Colégio Menino Jesus” que ficava também no centro. Nessa
época eu tinha pouco mais de cinco anos.
A hora mais divertida, sem
dúvidas, era esperar o ônibus da "Viação Rio Branco" na parada a poucos metros de nossa casa, embarcar
nele e passar por debaixo da roleta segurando com toda força do mundo para não
cair. Sentar no fundão era minha sina. Mamãe sempre preferiu sentar lá na
frente. Nunca entendia o porquê! Descobri depois de crescido que o balançado do
ônibus provoca enjoou nela. Mais o chacoalho era o mais legal, pois fazia um
barulho estarrecedor como se o mundo tivesse estraçalhando e o ônibus partiria
bem no meio.
Quando descia a ladeira da
maternidade, aí tinha que segurar mesmo. Pense num frio na barriga! E sempre
ela olhava logo lá atrás pra ver se estava tudo bem comigo. Cansei de apanhar
porque a lancheira vermelha com estampa do “Changeman” caia no chão e se abria
porque se esquecia de segurar. Chorava mais pelo pânico que ela provocava
quando derramava a “Fanta Uva”, ela dizia que eu morreria de sede porque não
havia mais líquido para beber na hora de comer a merenda. Eu não queria/quero
morrer nunca! Coisas de mães, provocar pânico! Nunca morria de sede, afinal,
sempre roubava um pouquinho do colega.
Quando chegávamos já nas
proximidades da Praça Plácido de Castro, atual Praça da Revolução, ninguém
poderia puxar a cordinha [leia-se ninguém]. Aquele troço era muito alto mais me
pertencia. De prontidão colocava no colo, levantava até eu conseguir puxar a
bendita corda que saia uma buzina ora engraçada porque fazia um barulho de
cigarra, ora chata porque reproduzia um som parecido com o telefone da casa da
vovó. A moral? Puxava a corda e num passe de mágica a porta se abria. Que
beleza!
A nossa parada final ficava entre
o Palácio Rio Branco e o atual Memorial dos Autonomistas. Daí, atravessávamos a
rua até chegar ao trabalho dela. Em seguida, depois de guardar algumas sacolas
no armário, ela me deixar teclar um pouco na máquina de datilografia (leia-se
apertar o espaço até ele fazer o barulho) antes de chegar dona Lenir - a chefa -
que normalmente vinha trabalhar com grandes bobs na cabeça e óculos na ponta do
nariz. Na realidade eu gostava da dona Lenir, apesar da voz dela ser estranha.
Gostava quando chamava de “loirinho lindo”, pois meus cabelos eram grandes,
cacheados e bem loiros! De quebra; olhos claros.
Feito todo o ritual, coincidia
com o horário da aula. Lembro que descia nas carreias o palácio até a esquina.
Quantas vezes embasbacado fiquei ao ver embarque/desembarque dos ônibus ali na
frente da Secretaria da Fazenda e antigo prédio da Ótica Ipanema. Achava algo
fascinante e amedrontador ao mesmo tempo.
Depois aproximava a melhor
hora; comprar chiclete ploc ou babalú. Que cheiro gostoso saia daquela banca! Até hoje funciona na frente do Colégio José Rodrigues Leite. Era nesse
momento que mamãe me comprava literalmente. “Esquece o choro no portão do
colégio ou nada de ‘Chiclete Ploc”, dizia sempre quando sentava nas escadarias
do Colégio já fazendo cara de choro.
O “Ploc” era o meu predito
por causa das figurinhas, principalmente aqueles da embalagem verde. Poxa,
quanta covardia! Chorava na porta do colégio porque sentia falta dela, não
queria nunca perdê-la de vista. Por mais que o parquinho, os coleguinhas e a
professora Glória e Ana desviavam minha atenção, eu queria sempre ficar perto
da minha mãe. Mas em nome das figurinhas acabava concordando.
Depois de uma tarde no “Menino
Jesus”, dona Lora me buscava totalmente detonado de tanto correr pelos
corredores. Subíamos a Avenida Benjamin Constant e esperávamos bem na frente da
ótica o ônibus 207. O trajeto? Passava direto do colégio acreano, seguia na rua
da delegacia da Cadeia Velha, entrava na Avenida Ceará, passava pelo Estádio
José de Melo, entrava na Getúlio Vargas assim que descia a ladeira da
maternidade, passava bem na frente das Casas Roraima, entrava no Mercado do
Bosque e saia na Quintino Bocaiuvas já perto da Casa de Tintas Luciana, e
entrava no bairro. Quantas saudades!
2 comentários:
Na verdade a imagem é ainda mais antiga pois em 1992 esse ônibus já não existia mais no nosso transporte (assim como todos os Marcopolo Veneza II já haviam sido retirados). A foto é de no máximo do ano de 1986. Pro final de 1985 a Viação Rio Branco renovou a frota e lembro quando criança do desfile dos novos ônibus... nunca esqueci dos nossos 3 novíssimos 97, 98 e 99 na linha 207... que tempos legais!
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