terça-feira, 16 de junho de 2015

OPINIÃO: UM POUCO MAIS DE CULTURA NO NOSSO ACRE

"Um povo sem cultura não se levanta. Se ajoelha”. A frase é de Willyan Johnes. Foi pensando nela que resolvi escrever um pouco sobre os nossos 53 anos de elevação a Estado brasileiro. Na realidade, quero sugerir, reclamar e sensibilizar você de que estamos pecando com a nossa história, nossos valores e hábitos.

Enquanto pedalava por nossa adorada capital, Rio Branco, passei a ponderar naquilo que acertamos e que erramos como seres culturais. Esse papo de ponderação entre meu consciente e minha experiência de vida rolou nas proximidades do antigo Aeroporto Presidente Médici. Depois de tantos anos trafegando por lá, me bateu uma saudade de quando aquela região toda era o nosso aeródromo. Na realidade, ele foi o segundo aeroporto criado em Rio Branco. Lembro-me de quando criança ia buscar algum parente ou apenas observar o pouso e decolagem naquela pista, que na minha cabeça engolia toda a cidade. Era como se toda Rio Branco fosse construída em seu entorno e cercada de propósito pra gente andar mais.
O antigo aeroporto de Rio Branco Presidente Médici ainda continua nas lembranças da sociedade acreana. 

As companhias aéreas foram tantas e muito importante para o desenvolvimento do Estado nas décadas de 80 e 90

Ainda posso sentir o cheiro de sanduíche que exalava pelos corredores. Visualizo os bancos de madeira que sentávamos, da pequena janela que possibilitava uma visão privilegiada para a pista. Lembro também dos formatos dos bebedouros e das lojas de brinquedos que exibiam em suas vitrines os mais belos aviões. Lembro-me da sua grande fachada azul e de como era legal ouvir o barulho das turbinas dos aviões mesmo colocando as mãos nas orelhas para tapar o ouvido e diminuir a pressão do som.

Quando visitei o local sentir um aperto no coração. Sabe aquela sensação de perca? De impotência? Sensação de que a nossa história está sendo enterrada como indigente – sem nome, sem lenço e nem documento.

Percebi o quanto esse patrimônio de nossa cidade que recebeu autoridades, levou ilustres acreanos para as outras regiões do país, está perdido. Está se acabando com a ajuda da ação do tempo, e principalmente do homem. Hoje, naquele local, é possível ainda encontrar nas poucas paredes que estão em pé às logomarcas das empresas que operaram por lá. A Torre de Controle, alguns hangares e até pneus de aeronaves que foram esquecidos ou deixados de propósito para causar esse efeito retrô na gente.


Por toda área onde o verde (mato) predomina, encontramos garrafas quebradas, entulhos de concretos, lixos domésticos, embalagens de entorpecentes e muitos preservativos.  Uma área que poderia e deveria ser adequada para fins benéficos caiu no esquecimento do povo e também de quem administra nossa cidade e estado. Talvez seja preciso desapropriá-la tendo em vista que a construção do aeroporto Plácido de Castro (Aeroporto Internacional de Rio Branco), construído sob o surrupiamento de milhões, se deu por conta do imbróglio de uma briga judicial entre estado e o dono das terras. Se for esse o problema, então vamos lá.

Mas o importante é ter alguma finalidade. O espaço poderia ser revitalizado e virar um museu da aviação acreana. Quem sabe, um verdadeiro complexo cultural. Apesar de sermos protagonistas de uma bela e rica história, o povo acreano é carente de cultura. Atualmente conta-se nos dedos os espaços que temos. Que serve realmente para atestar nossa cultura. Basta andar no centro da cidade para comprovar que estamos caindo nesse esquecimento, basta ir numa lanchonete e pedir um açaí com granola, leite condensado e creme de leite enquanto no nosso tempo bastava farinha e açúcar para temperar.

Vamos visitar mais o “Museu da Borracha”! Perdoei, ele está fechado para reforma. Vamos passear pelo “Parque Capitão Ciríaco”. Desculpe, não existe quase nada por lá para se vê além de seringueiras velhas. Então vamos passear pelo “Memorial dos Autonomistas”! Desculpa novamente, o local vive fechado e as exposições são as mesmas desde quando fora fundado. Então vamos partir para o “Museu de Porto Acre”. Puxa! Lá também vive fechado e não oferece conforto. Bibliotecas? Existem, mais só possuem livros e do tempo daquele amarelo que você tinha, mas jogou fora porque não havia espaço no armário. Que tal o “Palácio Rio Branco”? Esse também vive fechado para o público. Viu como é difícil?

Há alguns anos, o ex-deputado Geraldo Pereira manifestou na tribuna uma indicação para o Governo do Estado do Acre construir um “Centro de Tradições Nordestina”. Que baita indicação. Esse centro seria um ótimo lugar para que a nossa história fosse relatada através das manifestações culturais e das atividades que ali se propunha a cumprir. Então porque não criá-lo na pista do Presidente Médici?

O Acre é rico em belezas naturais (Fauna e flora) mais quando o assunto é atividade recreativa aquática ninguém sabe. A nossa capital é carente de espaços aquáticos. Então porque não criar nessa aérea um clube aquático do povo, para o povo?

Apesar de a capital ser dividida em distritos, o 1° Distrito possui hospitais, sedia bons restaurantes e comporta toda a vida administrativa dos executivos municipal e estadual. O inverso pode ser visto no 2° Distrito onde nem faculdade tem. Já passou da hora de criamos a Faculdade Estadual do Acre e nessa aérea seria um bom lugar para sua instalação. Chega de promessa para fins eleitoreiros. A construção dessa universidade seria uma ótima oportunidade para valorizar esse importante distrito de nossa capital e fortalecer a educação do nosso estado.

Tá bom! O povo acreano só quer se contentar com o básico - saúde e educação. No entanto lembre-se, merecemos muito, muito mais. Vamos cobrar mais, não precisamos só bater palma para o que já foi feito. Nossa cidade é linda e pode prosperar ainda mais. Independente de quem está no governo ou de quem passou por ele.
Creio que precisamos deixar a nossa herança cultural para os filhos do futuro. Precisamos comprovar a nossa existência e que fizemos de melhor por nosso território. Precisamos de mais cultura, pois a cultura de um povo é o seu maior patrimônio e preservá-la é resgatar a história, perpetuar valores, é permitir que as novas gerações não vivam sob as trevas do anonimato.

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