Mostrando postagens com marcador Rio Branco. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Rio Branco. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Senador Guiomard é a cidade acreana que mais cai raios


O Acre ocupa a 17° posição entre os estados do país  (Foto Cedida)

O número de raios na Região Norte está aumentando e a tendência é que a incidência do fenômeno continue crescendo na região, por causa do aquecimento global. Foi o que disse uma pesquisa publicada recentemente pelo Grupo de Eletricidade Atmosférico (Gelat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Segundo dados da instituição, o Acre ocupa a 17° posição entre os estados que mais caem raios no país.

O estudo aponta que caem 4,86 raios por km2 por ano em nosso estado. O que corresponde a 0,74 (média, em milhões) referente ao ranking nacional. Os estados que mais caem raios são; Amazonas (11,00) Pará (7,38) e Mato Grosso (6,81) consecutivamente.

Senador Guiomard (AC)      (Foto Quinary On Line)
Em relação aos municípios do Acre, Senador Guiomard lidera entre as cidades que mais caem raios (7,66 - Densidade de descargas por Km ao ano). Seguido de Brasiléia 7,32 e Sena Madureira 7,02 consecutivamente.   

O raio é uma descarga elétrica de grande intensidade que ocorre na atmosfera. A intensidade típica de um raio é de 30 mil Ampères, cerca de mil vezes a intensidade de um chuveiro elétrico. Em geral, os raios provocam um clarão e, logo em seguida, um barulho denominado trovão, por causa do deslocamento de ar.

Na maioria dos casos, as pessoas são atingidas por correntes indiretas que vêm, por exemplo, pelo chão. São raros os casos em que a pessoa é atingida diretamente por um raio e quase sempre ela morre imediatamente ou, quando sobrevive, fica com graves sequelas. 

Na natureza, as descargas elétricas riscam quilômetros de céu até atingir o solo, com uma voltagem de 100 milhões de volts. Comparando com uma tomada caseira, a voltagem é praticamente 1 milhão de vezes maior.

A pesquisa divulgada ainda compara dados do primeiro levantamento de mortes por raios, de 2000 a 2009, com dados do segundo, de 2000 a 2014. De 2000 a 2014, 1.789 pessoas morreram atingidas por raios em todo o país. O número médio de mortes por ano caiu de 132 para 111, mas, apesar da redução nacional, as mortes na Região Norte aumentaram e passaram de 18% para 21% dos casos.

Brasil

Por ser o maior país localizado na região tropical, o Brasil é o sétimo em número de mortes, atrás da China (média de 700 mortes por ano), Índia (450), Nigéria (400), México (220), África do Sul (150) e Malásia (150).

Apesar da tendência de aumento de raios no Norte, de forma pontual neste verão, por causa do fenômeno El Niño, a Região Sul será muito atingida. No inverno, já registraram 500% mais raios se comparado a 2014. No Sudeste o aumento foi 100%.

Apesar do número de mortes em atividades agropecuárias ser maior, com 25% dos casos, uma das preocupações do Inpe é com o aumento, de 12% para 19%, do número de pessoas que morrem por raios dentro de casa.

Mitos e curiosidades sobre raios

Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar? Não é verdade e uma prova disso é o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, que recebe ao menos seis descargas atmosféricas por ano. A origem desse mito está nos índios, que usam pedras atingidas por raios como amuletos, acreditando que estão protegidos contra os relâmpagos.

É perigoso ficar dentro do carro durante a chuva? Na verdade, o veículo fechado é o local mais seguro contra raios – nunca ninguém morreu no Brasil atingido por raio dessa forma. Se o carro é atingido por um raio, a descarga elétrica se espalha por sua superfície metálica, sem atingir quem está dentro dele.

A pesquisa foi apresentada pelo
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
Qual é a diferença entre trovão, raio e relâmpago? Relâmpago é toda descarga elétrica emitida por uma nuvem; raio é a descarga elétrica que toca o solo. Trovão é o som produzido pela descarga elétrica.

Dá para saber a que distância caiu o raio? É possível estimar a distância em quilômetros com um cálculo simples: basta contar o tempo (em segundos) entre o momento que se vê o raio e se escuta o trovão e dividir por três obtendo-se a distância aproximada em quilômetros.

 Existem raios que não partem das nuvens? Sim, são os chamados raios ascendentes, que saem de estruturas altas (torres, prédios altos) em direção às nuvens. Correspondem a cerca de 1% dos raios. O ELAT foi o pioneiro no registro deles no Brasil, observados em torres do pico do Jaraguá na cidade de São Paulo.


Os raios são diferentes em diferentes regiões? Sim. No Brasil, os raios do Rio Grande do Sul tendem a ser mais fortes e destrutivos do que os que caem em outras partes do país.

Publicado Originalmente: Jornal O Rio Branco
Reportagem: Wanglézio Braga. 

domingo, 12 de julho de 2015

A explosão que matou Lourival Sombra e uniu Acre e Rondônia pela compaixão

Bandeiras dos Estados do Acre e Rondônia 
Os Estados do Acre e Rondônia são tão próximos que podemos classificá-los como irmãos. A cultura, a simplicidade dos seus habitantes, a riqueza da gastronomia bem como os modelos econômicos adotados por ambos já são argumentos suficientes para declararmos sua irmandade. Afinal, do que seria do estado do Acre sem a mãozinha do irmão mais velho? Ou do que seria de Rondônia sem a história de superação acreana ?

Mais não é somente nesses fatores que precisamos enxergar tal parceria. Acre e Rondônia são ligados ainda pela solidariedade, dor e lamento. É justamente de um tempo, porém, solidário que preciso relatar, pois a história não pode ter um fim trágico como as cinzas de um prédio que veio a baixo por causa de um acidente tenebroso.

Dia desses, folheando as edições do Jornal O Rio Branco mais precisamente da década de 70, tomei conhecimento da morte de um personagem que a atual sociedade não fala, mas que estampa nomes de ruas e até prédio educacional na capital acreana, Rio Branco. Quando critico que a sociedade esqueceu-se dele posso me incluir nesse grupo, até porque se não fosse o acaso de certeza não estaria relembrando essa história. Na realidade, uma classe da população acreana do passado foi ingrata com tal personalidade. E talvez a população dos dias atuais seja da mesma forma por falta de conhecimento. 

Refiro-me de Lourival Sombra Pereira Lima, o professor acreano nascido no seringal Catuaba em abril de 1933. Lourival fora levado ainda pequeno, com nove anos, para a capital rondoniense, Porto Velho onde estudou na escola Dom Bosco, dos salesianos. Um acreano que viu no esporte a melhor forma de matar a saudade da família e dos bons tempos no seringal. Três anos depois os pais exigiram seu regresso, mas além de trazer as malas ele trouxe também boas habilidades com futebol e atletismo.

Cresceu e logo se casou com uma professora, Lacyra Teresinha Mota de Lima. O matrimonio durou 14 anos e desse amor surgiu três filhas. A vontade de aprender sempre foi o seu forte tanto que cursou Estudos Sociais na primitiva Fundação Universidade Federal do Acre (FUFAC).

Lourival era professor de educação física, tinha um corpo invejado por muitos, atleta e veloz nos campos de futebol. Foram adjetivos suficientes para ministrar em quase todos os colégios da capital as aulas desportivas. Fama essa que chegou ao estopim na educação quando se tornou coordenador e professor de educação física da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CENEC) e do Colégio Humberto Soares.

Lourival Sombra não parou e foi técnico time dos alunos que participaram dos Jogos Estudantis Brasileiros (JEBS) em Minas Gerais (MG), Porto Alegre (RS), Brasília (DF) e Maceió (Al). No futebol sobressaiu como zagueiro central e lateral-esquerdo dos grandes clubes de Porto Velho e de Rio Branco integrando a seleção dos dois estados. Por Rondônia lutou pelo Flamengo em 1956, Botafogo (RO), Independência (RO) e em 1958 a 1964 jogou pelo Rio Branco Futebol Clube. Findou carreira como o técnico do Vasco da Gama do Acre. Não satisfeito foi diretor dos árbitros de voleibol e do Futebol de Salão.  Este é o currículo do memorável. Mas, será que Rondônia e Acre resumiram suas interligações na vida de Lourival Sombra somente no desporto?  A resposta é negativa.

O relógio acusou 5h55mim de 27 de setembro de 1977. Uma manhã da quinta-feira qualquer na Avenida 07 de setembro em Porto Velho mais precisamente no Guaporé Palace Hotel. Um vazamento de um cilindro de gás na cozinha causou a explosão do mais famoso hotel da cidade. Entre os inúmeros hospedes estava Lourival Sombra o único que morreu instantaneamente em virtude da explosão.

O relato do Jornal O Rio Branco daquela época deu uma dimensão do sinistro. Conta o periódico mais antigo do Acre que os móveis foram arremessados pelas portas e janelas do prédio, destroçando tudo que encontrava pela frente. As grades de ferro foram arremessadas para um terreno baldio do outro lado da rua. Uma dessas grades caiu nas proximidades do Cine Lacerda na Rua Julho de Castilho. Na frente do Hotel havia dois carros; Chevrolet C-10 Azul (Placa AA 6333 de procedência PVH, de José Camacho dono do Hotel Guaporé que dormia e saiu ileso do acidente) e um Volkswagen marrom-caramelo de placa (AA4331 procedente de Rio Branco). Os automóveis foram arremessados para o alto e quando caíram ao solo ficaram com as traseiras suspensas. Um dos carros ficou totalmente destruído.

O Jornal Guaporé relatou que na explosão, um cofre de 1ª tonelada foi arremessado da parede para outro cômodo a três metros de distância. Uma laje do prédio ao lado caiu e todos os móveis ao redor foram destruídos. O corpo de bombeiros e a polícia técnica foram chamados no local para ajudar no resgate. “Todos os meus negócios terminam assim, parece que ando pagando os pecados de meus antepassados”, frase do Sr. Camacho dono do Guaporé Palace Hotel ao Jornal Guaporé logo após o acidente.

Por lá, consideraram que alguém tinha se esquecido de desligar a chave para evitar o vazamento de gás.  Eles não cogitaram defeito no botijão que pertencia a Sociedade Fogás LTDA. Uma equipe vinda de Manaus da própria Fogás esteve horas depois no local para ajudar na perícia. Técnicos da Atlântica Boavista Seguros também participaram das investigações.

Extraído da Edição do Jornal O Rio Branco de 28/10/1977

O acidente fez duas vítimas fatais. Lourival e um médico de 49 anos, DR. Libório Augusto Martins Alves que veio de Belém (PA). As copeiras, Luzia de Sousa Costa e Maria de Sousa Rodrigues, e o gerente Arivaldo Brasil de Brito foram internados no Hospital São José com ferimentos leves. O arrendatário do hotel sinistrado Valter José Soares e o porteiro Domingos Rosário Leite foram levados para Brasília (DF) em estado grave, mas sobreviveram. Já Eduardo Joviniano Filho, 85 anos, foi vítima indireta do acidente. Ele morreu pisoteado por populares que foram ajudar as vítimas da explosão.  

O desporto de Acre e Rondônia chorou a trágica morte de Lourival Sombra. A solidariedade também agiu de forma copiosa. Em Rio Branco, a família de Lourival havia recebido um telefonema sobre a morte do esportista, logo inúmeros taxistas mobilizaram para levá-los até PVH.

Vale citar que ele estava viajado para Porto Velho na segunda-feira (23) para comprar as peças do seu automóvel mais prometeu que logo retornaria para o Acre no mesmo ônibus que o levou para a Rondônia. Antes de embarcar, no dia 14 de setembro, recebeu alta médica depois de ter contraído uma infecção pulmonar.  

Um dia antes do sinistro no Guaporé Palace Hotel, ele jantou com o presidente do Flamengo, Eduardo Lima e Silva, o filho de Eduardo e Hélio Guilhen que foi jogador de futebol. Sendo que Hélio insistiu que dormisse na sua casa, mas Sombra recusou o convite. Os médicos legistas de Porto Velho, segundo o Jornal, diagnosticaram a causa da morte como “fratura craniana com hemorragia subdural”.

Recorte do Jornal O Rio Branco de 1977

O velório dele ocorreu em dois momentos. Um em Porto Velho e outro em Rio Branco. Na capital de Rondônia ele foi velado ainda na pedra do necrotério do Hospital São José. Como reconhecimento os amigos e os desportistas rondonienses pagaram o caixão, as coroas de flores, pagamento do frete e passagens para dois acompanhantes. Tudo isso pela bagatela de 20 mil cruzeiros.

O ato de generosidade, reconhecimento e amor pelo próximo foi reconhecido por meio de nota enviado ao Jornal O Rio Branco e publicado na capa do periódico pertencente ao Grupo Diários Associados de Assis Chateaubriand.   

Em Rio Branco, dona Lacyra Teresinha temia que o corpo do seu esposo estivesse dilacerado por causa da pressão da explosão, mas estava intacto. A urna mortuária foi trazida no Boing da Aviação Cruzeiro do Sul, e chegou às 8 horas da manhã de sexta-feira 28 no Aeroporto Presidente Médici. O avião da Tavaj tinha se deslocado para essa finalidade, mais teve um problema técnico na aeronave de Porto Velho decidindo a família do morto que a urna viesse em aparelho comercial.

O velório durou sete horas e aconteceu na residência da família localizada no bairro José Augusto próximo à quadra Ary Rodrigues. O sepultamento ocorreu ás 16h25mim no cemitério São João Batista. Apesar de famoso, poucos carros, alunos, colegas de trabalho, familiares, populares e parentes compareceram ao cortejo fúnebre. O que não passou despercebido pela imprensa que cobriu o fato. Inclusive a manchete do Jornal O Rio Branco informava “Pouca gente na despedida de Lourival Sombra”. O governador do Acre, Omar Sabino de Paula compareceu, assim como a diretoria Atleticana, o deputado estadual Raimundo Melo e outros.

No cemitério comentava-se muito a transitoriedade da vida para lembrar que nenhum dirigente da FAD e dos clubes pela qual ele jogou compareceu ao enterro, a exceção de alguns dirigentes do Atlético. Mais o estopim da deselegância aconteceu com o jogo entre Juventus x Atlético que ocorreu no mesmo horário do enterro, o que evitou a presença de muita gente. A diretoria do Atlético Acreano ainda propôs o adiamento da partida para as 19 horas que acontecia no Estádio do RBFC, mas a Federação não concordou porque “os ingressos estavam vendidos”.

Em contra partida, em Porto Velho, o desporto tributou grandes homenagens póstumas a Lourival Sombra, tendo o flamengo cedido a urna mortuário como preito de reconhecimento que o finado fez pelo futebol, o voleibol e a seleção rondoniense.

Em nota enviada ao Jornal O Rio Branco, a família agradece e nomina todos os que tiveram a atitude da generosidade e compaixão. Entre os citados estão os amigos de Lourival, comunicadores, veículos de comunicação (Impresso, Rádio e Tevê) e ex-jogadores.


“Eduardo Lima e Silva (Presidente do Flamengo); Srs. Eduardo Lima e Silva Filho, Hélio Guilhen, Antônio de Matos, Normando Garcia, Gervásio, Juquinha, Heraldo Guilhen, Bacu, José Dantas da Silva, Leovegildo Ferreira, Antônio Gonzaga Sobrinho, Dodó, Nemetala, Ivan Luís (Eletricista), João Tavares (Jornalista do Alto Madeira); Drs José Adelino da Silva e José Mário Alves, Maria da Conceição Batista, TV Rondônia e Rádio Caiari, professores Raquel Lima e Silva, Hermelinda Matos, Sras. Júlia de Oliveira Guilhen, Maria Isabel Lima e Silva, Clodenira Almeida da Silva, e a todo o povo de Rondônia (...) Sensibilizados ainda queremos agradecer ao gestor dos proprietários da Empresa Ribeiro Irmãos, nas pessoas dos nossos amigos Otávio e Dilson Ribeiro, que espontaneamente puseram a disposição para o transporte dos acompanhantes, um de seus confortáveis ônibus; ainda agradecemos a todos os motoristas de táxis e particulares que da mesma maneira operaram para o transporte dos acompanhantes”. dizia a nota. 

Portal de entrada da Escola em Rio Branco (AC) que leva o nome do desportista (foto Cedida)

segunda-feira, 29 de junho de 2015

REGISTRO: O Meio/Fim Ambiente

Desconfie daquilo que pregam para você. A sustentabilidade é uma ilusão. O que estamos fazendo com o Meio Ambiente tem outro nome: ruína. 

terça-feira, 16 de junho de 2015

OPINIÃO: UM POUCO MAIS DE CULTURA NO NOSSO ACRE

"Um povo sem cultura não se levanta. Se ajoelha”. A frase é de Willyan Johnes. Foi pensando nela que resolvi escrever um pouco sobre os nossos 53 anos de elevação a Estado brasileiro. Na realidade, quero sugerir, reclamar e sensibilizar você de que estamos pecando com a nossa história, nossos valores e hábitos.

Enquanto pedalava por nossa adorada capital, Rio Branco, passei a ponderar naquilo que acertamos e que erramos como seres culturais. Esse papo de ponderação entre meu consciente e minha experiência de vida rolou nas proximidades do antigo Aeroporto Presidente Médici. Depois de tantos anos trafegando por lá, me bateu uma saudade de quando aquela região toda era o nosso aeródromo. Na realidade, ele foi o segundo aeroporto criado em Rio Branco. Lembro-me de quando criança ia buscar algum parente ou apenas observar o pouso e decolagem naquela pista, que na minha cabeça engolia toda a cidade. Era como se toda Rio Branco fosse construída em seu entorno e cercada de propósito pra gente andar mais.
O antigo aeroporto de Rio Branco Presidente Médici ainda continua nas lembranças da sociedade acreana. 

As companhias aéreas foram tantas e muito importante para o desenvolvimento do Estado nas décadas de 80 e 90

Ainda posso sentir o cheiro de sanduíche que exalava pelos corredores. Visualizo os bancos de madeira que sentávamos, da pequena janela que possibilitava uma visão privilegiada para a pista. Lembro também dos formatos dos bebedouros e das lojas de brinquedos que exibiam em suas vitrines os mais belos aviões. Lembro-me da sua grande fachada azul e de como era legal ouvir o barulho das turbinas dos aviões mesmo colocando as mãos nas orelhas para tapar o ouvido e diminuir a pressão do som.

Quando visitei o local sentir um aperto no coração. Sabe aquela sensação de perca? De impotência? Sensação de que a nossa história está sendo enterrada como indigente – sem nome, sem lenço e nem documento.

Percebi o quanto esse patrimônio de nossa cidade que recebeu autoridades, levou ilustres acreanos para as outras regiões do país, está perdido. Está se acabando com a ajuda da ação do tempo, e principalmente do homem. Hoje, naquele local, é possível ainda encontrar nas poucas paredes que estão em pé às logomarcas das empresas que operaram por lá. A Torre de Controle, alguns hangares e até pneus de aeronaves que foram esquecidos ou deixados de propósito para causar esse efeito retrô na gente.


Por toda área onde o verde (mato) predomina, encontramos garrafas quebradas, entulhos de concretos, lixos domésticos, embalagens de entorpecentes e muitos preservativos.  Uma área que poderia e deveria ser adequada para fins benéficos caiu no esquecimento do povo e também de quem administra nossa cidade e estado. Talvez seja preciso desapropriá-la tendo em vista que a construção do aeroporto Plácido de Castro (Aeroporto Internacional de Rio Branco), construído sob o surrupiamento de milhões, se deu por conta do imbróglio de uma briga judicial entre estado e o dono das terras. Se for esse o problema, então vamos lá.

Mas o importante é ter alguma finalidade. O espaço poderia ser revitalizado e virar um museu da aviação acreana. Quem sabe, um verdadeiro complexo cultural. Apesar de sermos protagonistas de uma bela e rica história, o povo acreano é carente de cultura. Atualmente conta-se nos dedos os espaços que temos. Que serve realmente para atestar nossa cultura. Basta andar no centro da cidade para comprovar que estamos caindo nesse esquecimento, basta ir numa lanchonete e pedir um açaí com granola, leite condensado e creme de leite enquanto no nosso tempo bastava farinha e açúcar para temperar.

Vamos visitar mais o “Museu da Borracha”! Perdoei, ele está fechado para reforma. Vamos passear pelo “Parque Capitão Ciríaco”. Desculpe, não existe quase nada por lá para se vê além de seringueiras velhas. Então vamos passear pelo “Memorial dos Autonomistas”! Desculpa novamente, o local vive fechado e as exposições são as mesmas desde quando fora fundado. Então vamos partir para o “Museu de Porto Acre”. Puxa! Lá também vive fechado e não oferece conforto. Bibliotecas? Existem, mais só possuem livros e do tempo daquele amarelo que você tinha, mas jogou fora porque não havia espaço no armário. Que tal o “Palácio Rio Branco”? Esse também vive fechado para o público. Viu como é difícil?

Há alguns anos, o ex-deputado Geraldo Pereira manifestou na tribuna uma indicação para o Governo do Estado do Acre construir um “Centro de Tradições Nordestina”. Que baita indicação. Esse centro seria um ótimo lugar para que a nossa história fosse relatada através das manifestações culturais e das atividades que ali se propunha a cumprir. Então porque não criá-lo na pista do Presidente Médici?

O Acre é rico em belezas naturais (Fauna e flora) mais quando o assunto é atividade recreativa aquática ninguém sabe. A nossa capital é carente de espaços aquáticos. Então porque não criar nessa aérea um clube aquático do povo, para o povo?

Apesar de a capital ser dividida em distritos, o 1° Distrito possui hospitais, sedia bons restaurantes e comporta toda a vida administrativa dos executivos municipal e estadual. O inverso pode ser visto no 2° Distrito onde nem faculdade tem. Já passou da hora de criamos a Faculdade Estadual do Acre e nessa aérea seria um bom lugar para sua instalação. Chega de promessa para fins eleitoreiros. A construção dessa universidade seria uma ótima oportunidade para valorizar esse importante distrito de nossa capital e fortalecer a educação do nosso estado.

Tá bom! O povo acreano só quer se contentar com o básico - saúde e educação. No entanto lembre-se, merecemos muito, muito mais. Vamos cobrar mais, não precisamos só bater palma para o que já foi feito. Nossa cidade é linda e pode prosperar ainda mais. Independente de quem está no governo ou de quem passou por ele.
Creio que precisamos deixar a nossa herança cultural para os filhos do futuro. Precisamos comprovar a nossa existência e que fizemos de melhor por nosso território. Precisamos de mais cultura, pois a cultura de um povo é o seu maior patrimônio e preservá-la é resgatar a história, perpetuar valores, é permitir que as novas gerações não vivam sob as trevas do anonimato.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

VIAGEM AO PERU – O ESTRANHO, O MEDO E O DESEMBARQUE EM CUZCO


Oi pessoal!


Nas ruas de Cuzco o colorido chama atenção dos turistas

Sei que estou ausente desse espaço como um filho que abandonou seu pai no asilo e nunca mais voltou para vê-lo. Quero dizer que nesses tempos a minha vida está atarefada e quando tenho tempinho pra alguma coisa prefiro o descanso; seja sozinho quando ouço minhas músicas, com os amigos numa mesa de bar ou simplesmente com os meus textos de trabalho.

Hoje bateu a saudade de aparecer por aqui, contar um pouco sobre mim, sobre minhas viagens. Por isso resolvi postar algumas histórias que me lembro da viagem que fiz ao Peru (2013) nas minhas primeiras férias do Jornal O Rio Branco.

Bom, a viagem foi ótima e as experiências que tivemos por lá foram as melhores possíveis ainda mais quando você tem ao seu lado pessoas bacanas e um objetivo: Testemunhar o amor.

Ônibus que fizemos o trajeto
Em Agosto de 2013, fui convidado pelo casal de amigos - Ângela Rodrigues (ZÚ) e Francisco Pantigoso (PANT) - para participar da cerimônia de casamentos deles que aconteceu em Lima, capital do Peru. Daí, como viajar sozinho não é muito a minha praia, resolvi convidar o Emerson Barbosa (jornalista de Rondônia) a fazer essa viagem comigo.

PARTIDA

Saímos numa quarta-feira da Rodoviária Internacional de Rio Branco. O valor da passagem ida e volta [Trecho Rio Branco/Porto Maldonado/Cuzco – Cuzco/ Porto Maldonado/ Rio Branco] custou R$ 320 reais pela Movil Tur [Empresa peruana]. Por lá, encontramos um paulista que estava de passagem pela capital do Acre e que pegou o mesmo ônibus que a gente. Seu nome? Gregory Matteucci um sujeito a principio estranho mais que logo conseguiu fazer amizade conosco.
Gregory e Eu no ônibus da Movil Tur

Ás 10 horas nosso bus saiu da rodoviária e partimos para a fronteira (Epitaciolândia/Bolívia) onde fizemos nossa primeira parada para almoçar. Visivelmente ansioso, falei ao Barbosa (Emerson) que não ia almoçar comida brasileira e que daria tudo para provar da culinária dos Andes. Ele, muito fã da comida acreana não perdeu tempo e fez o seu prato estilo pedreiro (uma moita sem fim). Após o almoço, pegamos a estrada e com destino à Assis Brasil (última cidade brasileira na fronteira do Brasil com Bolívia/Peru).

No trajeto, o “comissário de terra” nos entregou um formulário para preencher que facilitaria na saída do país e na entrada do outro. O documento (escrito em espanhol/inglês e português) foi entregue na Aduana em Assis Brasil. Lá desembarcamos e registramos nos documentos junto a Polícia Federal (PF) a nossa saída.

ADUANAS BRASIL/PERU

Aduana em Assis Brasil (AC)
Embarcamos novamente e ao atravessar a ponte que liga dois países, chegamos à Aduana peruana. No desembarcar, vários cambistas querendo trocar o nosso Real por Novo Sol (nuevo soles). Marinheiros de primeira viagem, pedimos ajuda de uma senhora brasileira que morava há dez anos nos Andes Peruano. De tanto tempo que morava lá mal falava o português, mas nos ajudou identificando as cédulas verdadeiras.

Depois de trocar o nosso dinheiro foi à vez de passar pelo setor de imigração. Foi nessa hora que o medo bateu e as pernas ficaram tremulas. Meu documento (RG) estava velho e a possibilidade deles aceitarem, sem o passaporte, era muito pequena. A imigração peruana é muito exigente quanto à entrada de estrangeiros em seu solo. Minutos depois cheguei à sala do chefe da imigração puxei uma brincadeira e dei o documento para carimbar (visto de turismo).  



Wanglézio e o chefe da imigração peruana

Enquanto isso ao lado dele, uns verdadeiros armários (soldados) realizava sua segurança e com a típica cara de mal. Tremi na base quando ele perguntou quanto tempo ficaria no país. Disse a ele que passaria no máximo um mês. Ele perguntou se existia a necessidade desse tempo todo e respondi que não, mais se ele desejasse poderia liberar apenas 15 dias. Ele só olhou pro meu rosto e disse: Listo! (pronto em português).

CONVERSA VAI, CONVERSA VEM

Tudo pronto e mais algumas horas desembarcaríamos na rodoviária de Porto Maldonado. Durante o trajeto, Emerson, Gregory e Eu conversamos muito. Falamos sobre sonhos, frustrações, objetivos, carreiras e até de comida. Um das coisas que não esqueço foi o desafio que o Gregory lançou: “Estou sem rumo na vida. Quero cruzar os Andes a pé. Quero descer e subir esse lugar. Talvez siga viagem até o Equador, Colômbia ou quem sabe a Venezuela. Estou sem dinheiro e vou conseguir fazer esse percurso a pé”, afirmou.

Emerson e eu não estávamos muito acreditando na história, porém, pra nossa surpresa Gregory mostrou sua mochila cheia de alimentos, objetos para acampamento e até um mapa de sua aventura. Enquanto me concentrava na conversa dele, enxergava da janela uma triste realidade da Amazônia Peruana: A ação do homem em busca pela riqueza.

Moeda Oficial da República do Peru
Máquinas pesadas e dragas, muitas dragas na beira da estrada e dentro do rio que corta aquela região. Em um determinado trecho, foi possível contar (14 caminhões) carregados de areia saiam em filas de uma base improvisada da empresa que ali extraia o produto. Registrei algumas imagens, outras ficaram na minha memória.

Devo lembrar que o trajeto foi muito tranquilo. A carreteira (estrada) do lado peruano é linda! Sem buracos, sem desvios, muito bem sinalizada. Não posso afirmar o mesmo sobre nossa estrada brasileira. Parece mais um pedaço de queijo.

Logo, a noite caiu e segundo o comissário de terra chegaríamos ás 19 horas em Porto Maldonado (capital do Departamento de Madre de Dios). A previsão dele falhou e chegamos à cidade ás 20 horas. Desembarcamos e logo achei aquilo tudo muito estranho. A começar pelo clima (17°C) e um vento supergelado. Nossa preocupação foi encontrar o guichê da empresa para fazer a conexão com o outro ônibus que nos levaria à Cuzco. Minutos depois, ficamos sabendo que o bus sairia ás 22 horas.

No desembarque em Porto Maldonado

Rodoviária de Porto Maldonado
Depois de quase 11 horas de viagem a barriga dava sinal de fome. Na rodoviária havia vários biscoitos e pequenos lanches com aparência bem gostosa, mas a fumaça e o cheiro que vinha lá de fora me atraiu. 

Avistamos pequenas barracas que vendiam jantas (cena) e produtos comuns em mercados. De cara, avistei um homem tomando um caldo servido num prato de alumínio com pedaços de frango (Pollo) com batatas e macaxeira (mandioca).

A cena não era das melhores, tendo em vista que ao passo que olhava pra ele logo acima de sua cabeça, no telhado, passou um rato gigantesco (No Brasil seria classificado como uma cutia). Aí a vontade de comer ficou por lá. Emerson se encantou com um prato de Pollo frito com batatas e salada com abacate. Até que curti a ideia, daí fui na opção dele e resolvemos arriscar. Pedi uma coca cola e não tinha. Pedi uma Fanta Laranja, também não tinha. A única coisa que existia ali era água mineral e Inca Kola (tem coloração amarelo-ouro).

Garrafa de Inca Kola 
Pedi a tal Inca Kola e tomei mais da metade pra ajudar a descer. Nossa maior preocupação foi com a saúde, pois afinal, sem ela como viveríamos para contar a história depois?

Depois da gororoba segui as dicas da minha colega, Mircléia Magalhães, de comprar uma pílula para náuseas, enjoos e problemas de pressão por causa da altitude. Procuramos a bendita pílula, mais não havia disponível nas barracas. Até que por indicação de um senhor, encontramos e tratamos logo de tomar para fazer efeito na viagem, afinal, iríamos subir as cordilheiras na madrugada.

CONEXÃO EM PORTO MALDONADO

O tempo passou e o horário do embarque chegou. Fomos os últimos a entrar no ônibus. O Gregory também pegou o mesmo ônibus de conexão que a gente. Ele estava nos procurando desesperadamente pela rodoviária porque ouviu alguém dizer que sairia em poucos minutos. Corremos até o guichê da administração da rodoviária para efetuar o pagamento do imposto de embarque (Aproximadamente 2 Sol Novo). Passagens carimbadas e o embarque feito às pressas.

Chegando ao terminal, pegamos nosso ônibus de três andares, equipado com televisão, poltronas mega reclináveis, banheiro gigantesco e um som ambiente regado ao estilo Cumbia Romântica. Ficamos no primeiro andar lá de cima. Visão privilegiada! Pena que de noite não enxergamos muita coisa, mas o amanhecer foi espetacular. Lembro que na poltrona da frente havia uma família (pai, mãe, um bebê de colo e um menino mais crescido), ao lado três americanas e uma francesa.

Ela recebeu o apelido de "Bonita" por seu charme e carisma
Minutos depois de viagem, o anúncio da Comissária de Terra, apelidada de bonita (porque ela é realmente muito bonita), explicava que ônibus era equipado com calefacción (aquecimento), banheiro que era usado apenas para urinar (ela frisou que era apenas para urinar se alguém quiser fazer o número 2 deveria avisar ao motorista, ele pararia no meio da estrada e a pessoa descia) e que serviria em breve um lanche aos passageiros.

Lanche servido no ônibus
Começamos a conversar, Emerson e Eu, falamos das nossas vidas de jornalistas, das dificuldades de trabalhar na área, dos benefícios de ser um comunicador, conversamos dentre outros assuntos dos amores e das pessoas. O papo ia fluindo muito bem, até que a Bonita (Comissária de terra) veio nos oferecer uma caixinha com bolacha (salgada), um pedaço de bolo de laranja e Cupcake com Inca Kola e água mineral.  Não perdemos tempo e fizemos amizade com ela, porém, a coitada sozinha fazia o serviço de bordo nos três andares e pouco tempo teve para conversar conosco.

Não demorou muito para eu sentir um friozinho a mais, afinal, escolhi o lado da janela, e perceber que os vidros estavam embaçados. Dentro do ônibus pouco se ouvia barulho, só da Cumbia que tocava na rádio interna. Minutos depois a sinfonia de roncos e tosse indicava que as pessoas estavam cansadas, ou dormindo e dando os primeiros sinais da altitude.

Uma horinha depois começamos a subir as cordilheiras. Subíamos em forma de circulo. Subíamos, subíamos , subíamos e foi assim o restante da viagem. Parecia que nunca mais andaríamos em linha reta como na estrada. Lá pelas tantas da madrugada, sem pregar um olho, as meninas do lado começaram a passar mal. Uma delas encheu o saquinho para vomito, outra reclamava de dor de cabeça. Emerson não aguentou e dormiu. Talvez para não testemunhar a cena ou ainda seria a melhor forma de passar aquela experiência horripilante de subir as cordilheiras e não sentir “coisas”.

Descendo, descendo, descendo (...) 
Da janela menos embaçada avistava os paredões de pedras e os carros passando espremidos ao lado do nosso ônibus. A cada ultrapassagem, só Deus sabe o quanto eu morria de medo de bater naquele negócio e cair no abismo. Mesmo assim resolvi ouvir meu MP3 ao som de (Ivan Lins, Caetano Veloso, 14 bis e sertanejo universitário misturado com pop rock). Não custou muito para sentir os olhos pesando. Numa pestanejada e o sono me consumiu.

Tempos depois acordei e nosso ônibus continuava a subir as estradas das Cordilheiras. Olho para o lado e vejo a maioria das pessoas dormindo. Olho pro outro lado e testifico os primeiros raios do sol. Vejo também lá em baixo pequenas luzes acessas (infindáveis pontinhos de luzes) e pensava que estaríamos chegando ao destino: Cuzco.

A viagem prossegue e volto a dormir. De repente, o ônibus começa a descer, descer e descer. Era algo muito rápido como se não estivesse com freios. O meu coração acelerou, comecei a suar e ficar preocupado com a velocidade do ônibus que ameaçava bater nos paredões de pedras ou quem sabe nas carretas que por lá trafegam. Resolvi acordar o Barbosa. O cara também ficou aflito! Não sabíamos se nos despedíamos ou deixávamos recado para nossas mães se alguém sobrevivesse.


Montanhas de gelo nas Cordilheiras dos Andes 

O dia clareou e sou acordado pelo barulho de um senhor que seria o primeiro a descer no trajeto. Lá em baixo ele pegava seus pertences e abraçava sua família. Deu um beijo numa senhora, tal sua esposa, que vestia uma roupa de lã colorida e um chapéu esquisito. Barbosa e Eu, nesse momento, passávamos a lembrar das cenas de terror que vivemos na madrugada. Logo em seguida os outros passageiros também comentavam sobre a viagem.

Nessa altura da viagem as primeiras características de Cuzco se revelavam. Casas bem pobres construídas nas pedras. Na beira da estrada era possível testemunhar a vida no campo rural; animais soltos na estrada, carroças carregadas com alimentos e a famosa folha de coca amontoadas em sacos de fibra.

Nosso café da manhã (Desayuno) foi servido dentro do ônibus. Sucos, bolachas, Inca Kola e Chá foram servidos pela Comissária Bonita. Optei pelos biscoitos que havia comprado no Brasil e tomei suco e Inca Kola. Já o Barbosa foi com o Desayuno da casa.

Tantas horas de viagem e algumas coisas começaram a me aborrecer. O Choro inconstante do bebê da frente, o mau-cheiro insuportável do banheiro e a aflição de sair daquela estrada. Demorou só mais um pouco e depois de 22 horas (de Rio Branco a Cuzco) chegamos à cidade dos Incas.

O DESEMBARQUE EM CUZCO

Na rodoviária a grata surpresa: Não sabia se estava na torre de babel ou encontro internacional de vários países. Pense num lugar cheio de gente de várias partes do planeta! Agora imagine todo mundo gritando e falando alto como se não houvesse o amanhã! Pensou? Pois bem, assim era o ambiente da estranha Rodoviária de Cuzco.

Rodoviária Internacional de Cuzco - Peru
O frio de (10° C + vento gelado) deram ás boas vindas aos turistas medrosos (Emerson e Eu).  No desembarque, comecei a sentir algo diferente. Emerson falava algo e ouvia segundos depois com deley. O corpo pesava muito e era impossível respirar naquele ambiente. Logo pensei: Coisas da altitude.

Pegamos nossas coisas e fomos procurar hotel. Ainda na Rodoviária, no portal de saída, encontramos uma senhora de estatura baixa que vendia estadias. Sua cara não era das melhores. Sei que não podemos e que é deselegante julgar as pessoas por sua aparência, mas seguindo as orientações de quem já visitou o Peru – “Tome cuidado na rodoviária! Cuidado com o golpe! Muitos peruanos gostam de dar golpe nos brasileiros”! – resolvi informar ao Barbosa que negociaríamos com outra pessoal o hotel pois ela não passou confiança.

Barbosa concordou e resolvemos procurar outros agentes de turismo. Demos uma volta na rodoviária e ele encasquetou com essa mulher e resolveu ouvir a proposta. Resultado: depois de muito convencimento ficamos no hotel dela (Tupana Wasi). Pegamos um táxi e ela nos levou para conhecer as instalações.

Rua do hotel Tuapana Wasi

Quando chegamos, paramos o carro no meio da rua e os motoristas começaram a buzinar. Era algo estranho e muito estreito. Daí, começamos a nos familiarizar com ela e o ambiente e aceitamos ficar. A senhora, de imediato, nos ofereceu chá da folha de coca e perguntou se queríamos fazer o Desayuno. Barbosa aceitou, porém, eu só queria dormir e passar aquela coisa ruim. (Continua...) 


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

De jogador equatoriano famoso a microempresário no Brasil



Júlio César na estrada do Equador - Arquivo Pessoal

Nuvens carregadas ameaçavam chover a qualquer hora na tarde de hoje, mesmo assim, pego minha motoca em busca de mais um personagem. Desta vez, indicado por Chango o dono da (El pincel viajeiro). Pelas descrições do peruano, procuro um rapaz franzino, de traços indígenas e com sotaque Castelhano/português e proprietário de um lanche.

No bairro indicado, ninguém o conhece, até que estaciono próximo a um comércio e pergunto: - Conhece algum equatoriano?

Assustado, Júlio César Hernandes, de 26 anos, respondeu que é equatoriano, e retribuiu minha pergunta com um olhar de medo, curiosidade e esperança.

Tiro o capacete, cumprimento-o, me identifico e pergunto se poderíamos conversar. Levou-me até a sua casa que fica a poucos metros do rio Acre para mostrar como vive com sua namorada, o que faz no Brasil e relatar a sua interessante história de vida.

Chegando a sua residência humilde, cedida pelo sogro, me convidou para entrar e a chuva que ameaçava cair, desabou por longas horas. Mesmo assim, começamos a papear, e ele disse que enfrentou cinco dias dentro do ônibus para realizar um sonho em terras brasileiras, ou melhor, nos gramados dos times do país; ser jogado do flamengo e conhecido que nem o Zico.

Júlio é um famoso jogador profissional de futebol. Em Guayaquil, cidade habitada por 85% da população negra do Equador, jogou pelo Sociedad Desportivo Quito um dos times mais famosos, depois da seleção equatoriana. Teve ainda participação na seleção do Equador na categoria sub-20.

Antes de falar sobre sua carreira e dos primeiros dribles no futebol, ele me explicou que seu pai também era atleta e que vivia numa cidade litorânea, junto da   sua mãe e mais quatro irmãs.             

Com seu time aos 6 anos - Arquivo Pessoal 

Pergunto sobre sua infância, e apontando para a chuva, diz que o cheiro e o barulho das águas trazem boas recordações como pescar ao lado do pai na beira do mar, das excursões que fazia com os amigos em busca da onda perfeita e da água de Jamaica que pegava dos coqueiros da serra.

Relatando sobre a viagem para cá, contou que foram longas horas abordo do ônibus e que passou por cidades estranhas e deslumbrou belíssimos cenários da natureza, como por exemplo, o sobrevou de uma flamingo próximo a sua janela.

Mais calmo e empolgado, fala da viagem para Argentina. Ao completar 18 anos e se revelando um craque, embarcou e desvendou as terras de Cristina Kirchner em busca de oportunidades, mas, sem sucesso.

De volta ao Equador, trabalhou como barman em um hotel que pertencia a uma família Judia. Conheceu e fez amigos da Alemanha, Brasil, França e Peru.

Conta ele que “um homem me reconheceu na fila de emprego e elogiou meu trabalho como jogador de futebol. O judeu, dono do estabelecimento, falou que não iria me contratar por não ter perfil para a vaga. O homem que estava na fila comentou que eu era muito bom no futebol. O judeu que gosta de futebol e tem um time mais que (não sabe jogar), me convidou para jogar, no entanto, recusei porque anteriormente havia frustrado na Argentina e o judeu me ameaçou dizendo que só me aceitaria como barman se fosse jogar no seu time. Como era trabalho, e no Equador é difícil, resolvi aceitar prontamente o emprego”, disse contando ainda que “depois de contratado, todos os dias, os judeus falavam seus idiomas o que me ajudou a compreender alguns costumes e crenças”.

O desembarque em terras de Zico, Pelé e Ronaldo.

Depois de reacender a chama no time do judeu, decidiu o equatoriano que precisava ir ao Brasil e vestir a camisa de algum clube, tudo por influencias do seu pai e desejo de conhecer os seus ídolos brasileiros.

Na primeira oportunidade, Júlio com 23 anos, saiu do litoral na fronteira do Equador e Colômbia, atravessou o Peru e chegou ao Brasil pelo Acre no final de setembro de 2009. Foram longos dias dentro do ônibus (ele não tomou banho por cinco dias e só comeu pequenos lanches).

Enfrentou uma saga para receber a autorização e o visto no país. Ao chegar a em Xapuri, foi abordado pela Polícia Federal ordenou retornar à Epitaciolândia para registra-lo no sistema. Sem dinheiro, Hernanes deve que retornar a pé, mas por sorte, conseguiu uma carona até a fronteira.

Típica pochete equatoriana - Foto: Wanglézio Braga

Peço que detalhe como a cultura do seu país, rapidamente, corre até o seu quarto e trouxe consigo uma bolsa contendo algumas miniaturas típicas do Equador. Entre os objetos apresentado, uma pochete, que dentro dela havia um cordão preto e uma minúscula bolsa vermelha.

Quando peguei o objeto, disse ele que 'sentirá medo após contar a história do cordão vermelho'. Na hora pergunto porque e responde que, "é comum nas aldeias indígenas do Equador, extrair pedaços de ossos dos ancestrais para atrair sorte. Nesse que você segura, carrego pedaços do dedo do meu avô", explicou rindo da minha expressão facial.

Dentro da bolsa havia pedaços de ossos - Foto: Wanglézio Braga

Depois da explicação macabra, mudei de assunto e perguntei o que ele mais acha de diferente no Brasil. Ele respondeu que algumas expressões são bem parecidas do seu idioma e outras um tanto inusitadas.

“Certa vez, esperava o autobus (ônibus em português) juntamente com um colombiano, e duas mulheres estavam próximas a mim, de repente, o ônibus se aproximou e gritei:- Vamos colar a buceta! (Vamos pegar o ônibus!)”.

A reação das mulheres que estavam próximas, não foi a melhor. Uma delas deu tapa no  braço  de Júlio, que prontamente explicou que estava referindo-se ao ônibus. “Sem entender, todos rimos muito até perder o ônibus”, esclareceu o vocabulário aparentemente chulo.

“Costumamos comer garapa de cana que se chama “Panela” no Equador. Quando cheguei a Rio Branco fui ao supermercado para comprar, infelizmente não achei. Pedi ajuda de um funcionário que me levou a seção de panelas. Fiz cara feia, pedi uma caneta e um pedaço de papel para desenhar o que queria. Ele trouxe e para a minha sorte, um rapaz que estuda na Bolívia explicou que no Brasil chama-se “Rapadura ou Açúcar Mascavo em barra” e não panela”, contou gargalhando.

Audácia na cafeteria e sua amada namorada

Comentando sobre o assédio das fãs e dos amores conquistados, o equatoriano revela que conheceu inúmeras mulheres inclusive uma americana.

“Trabalhei em Guayaquil numa cafeteria e lá cuidava de por café na xícara e entregava aos garçons. Num dia de trabalho encontrei uma cliente americana que pediu café expresso e ficou sentada aguardando. Ela era muito bonita, por minutos fiquei contemplando aquela beleza norte-americana. Correndo o risco de perder o emprego, aprontei e fui pessoalmente servi-la. Minha supervisora ficou muito chateada por essa atitude, afinal, existem garçons para servir. Mesmo assim, falei para americana que meu expediente terminava ás 9h e desejava muito conhecê-la. Ela concordou e voltei ao meu setor onde recebi uma advertência”, relatou e continuou, “namorei com ela por alguns anos onde aprendi falar inglês. Planejamos morar nos Estados Unidos, mas isso não foi possível por causa da burocracia americana. Ela foi embora e nunca mais nos falamos”, lembrou.

“Quando desembarque em Rio Branco as pessoas diziam que encontraria mulheres bonitas. Atestei quando conheci a minha atual namorada. Ela trabalhava num lanche no centro. Quando ela passava pela Gameleira meu coração palpitava. Certa vez a encontrei numa festa. Ela estava toda linda de cabelo encaracolado, maquiada e usava um batom que chamava atenção. Apaixonei-me mais ainda nessa hora. De repente, passei a visitar sua casa uma vez por semana e conversei com o seu pai sobre o nosso namoro, estamos juntos alguns meses e espero continuar com ela, pois é batalhadora, inteligente e bonita”.

Enfrentou dificuldades e não esqueceu o futebol

No Desportivo Quito- Arquivo Pessoal

Sendo um jogador famoso em seu país, Julio César, não teve muita sorte nos gramados brasileiros, ou seja, ainda não alcançou a fama desejada. Os times de futebol acreanos não os melhores do cenário nacional, mais foi que conseguiu por enquanto.

Contou que seu primo mora em Minas Gerais, e por lá, tentou agendar uma reunião com caçadores de talentos dos times mineiros, mas espera até hoje um contato dos contratadores.

No currículo, jogou uma temporada pelo Vasco mais foi demitido por não ter conseguido regularizar os documentos junto á embaixada. A regularização é um dos principais problemas que ele enfrentou nos últimos anos (ele e muitos outros estrangeiros que chegam à fronteira do Acre).

Contou que sua família insistentemente – por telefone ou internet – por seu regresse ao Equador, ele responde que “voltarei quando realmente conseguir os meus objetivos”, afirmou com muita convicção.

Para sobreviver em solo acreano, Hernanes trabalhou como barman e técnico de refrigeração, no entanto, o preconceito por ser estrangeiro foi à causa das demissões. Por isso, resolveu criar o próprio negócio e há três meses tornou-se um microempresário.

“Já que precisava trabalhar em alguma coisa, resolvi montar o meu próprio negócio. Comprava os salgados e revendia nas ruas. Como não deu certo, aprendi a produzir os lanche e abrir uma lanchonete com ajuda do meu sogro. Junto com a minha namorada produzimos 60 salgados por dia. Graças a Deus os negócios estão indo muito bem”, contou.
Empolgado, me contou que também trabalha com peças de artesanato, no entanto, por respeito à natureza e a biodiversidade amazônica, não confecciona a arte.

Indago sobre sua carreira no futebol, dos sonhos e do futuro. Suspirando, responde que “vou conseguir! Passou alguns anos, estou me acostumando com a cidade e a cultura do povo brasileiro. Corro diariamente pelas ruas, treino futebol com um grupo de pessoas e procuro contatos.  Deus está preparando algo de bom na minha vida, eu creio!”.

Encerro a história de hoje torcendo pelo sucesso de Júlio e resumo tudo que contei em  duas citações. Uma do trecho da música do Skank que reza; “Quem não sonhou em ser um jogador de futebol? Que emocionante é uma partida de futebol”, e a outra de Clarice Lispector que diz; “Sonhe com aquilo que você quiser. Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que se quer”.