segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Chango veio pra cá, rodopiou no salão e mostrou que é bom conhecer a cultura alheia


Arquivo pessoal 

Dia desses, saindo de uma festa latina no Clube Tentamen, encontrei um homem de estilo diferente, trajando jaqueta preta, cabelo estilo Neymar, uma trança que caia de lado no pescoço, óculos escuros e de sandálias.  

Muito sorridente e simpático com a minha amiga, que estava magnífica naquela noite, identifica-se como “Chango” nascido em Lima, Capital do Peru.

Cumprimentamos-nos e começamos a papear sobre as danças latinas e das musicas que estava tocando. Prontamente, minha amiga, perguntou se ele dançava salsa, merengue e a cumbia (típicas em seu país). Sem pestanejar, ele responde com passos de cumbia e diz que dava aula de dança (pra não dizer show).

Como de sempre, Ângela e eu, caímos na gargalhada e não botamos muita fé no gingado do peruano esquisito.  

Saímos para comprar chiclete de caixinha na Rua 24 de janeiro e quando voltamos, encontramos o Sr. Chango rodopiando no salão com uma morena que dançavam freneticamente um lambadão. Nessa hora, Angel e eu, ficamos impressionados com aquele rodopiado e gingado que ambos faziam.

Confesso que até tentamos pegar alguns passos, mais não dava, eram rápidos demais e tínhamos outra festa para irmos (não poderíamos suar).

Arquivo pessoal


Dias depois, novamente, Ângela eu, fomos dar um bordejo no Novo Mercado Velho onde acontecia uma feira artesanal. De repente, avistamos uma roda e no meio, um artista de rua pintando belíssimos quadros. Quem era? “Chango” o dançarino. Esperamos acabar a apresentação, fomos correndo cumprimenta-lo.

Com jeito simpático e “Hermano” de tratar os outros, foi logo dizendo que tinha uma cabeça boa e que se lembrava dos nossos rostos.

Novamente papeamos por algumas horas, trocamos contatos, e marcamos para nos ensinar uns passos na casa da Ana. Mesmo assim, combinamos para o dia seguinte tomar uma cerveja no mercadão e almoçar um tambaqui frito.

Chegando lá, encontro o peruano vestindo uma camisa laranja com desenhos indígenas dizendo que havia confeccionado a camisa. Daí, pergunto sobre sua profissão. Ele relatou que era professor de dança, guia turístico, artesão, pintor de quadros feito com tinta óleo/spray, empresário, músico e que falava francês, português, inglês e italiano.

Explicou que seu nome verdadeiro era Piero Aranibar B., mas era conhecido por “Chango” que significa “macaco forte”, tendo em vista que desde pequeno malhava e quando passeava por seu bairro todos gritavam “lá vai o Chango!”.

Aos 36 anos, Piero Aranibar é pai de três meninas sendo duas peruanas e uma dominicana. No Peru, casou-se bem cedo e depois terminou o relacionamento onde viajou para outros países da America do Sul e ilhas do Caribe em busca de conhecimento, aventura e novos amores.

Ele conta que desde pequeno se considerava um artista e que sua cidade, Lima, não proporcionava cultura e arte suficiente. Por meio das viagens que fazia se deleitava em conhecimento, aventura e quebrava paradigmas impostos por sua mãe.

“De trem, avião, barco, carro, moto e até de pé”, explica ele, “conheci Argentina, Chile, Bolívia, Equador, Colômbia, República Dominicana, San Martin, Haiti e agora, o grandioso Brasil”.

Por onde passou, aprendeu! Aprendeu que é preciso respeitar a cultura de cada povo e que é fundamental ser assertivo (ter inúmeras qualidades) para ser mochileiro, e no final, sobreviver.
Chango - hora dava atenção ao prato de galinha caipira, hora conversava comigo - contou das inúmeras histórias que presenciou em suas andanças pelo mundo a fora e que me fez gargalhar e imaginar tais situações.

O beijo santo, expulso de um ritual e expressões nada convencionais


Arquivo Pessoal

Chango relatou que em sua viagem a Porto Príncipe, capital do Haiti, esperava na rodoviária um táxi para leva-lo até o hotel. De repente, encontrou um homem negro, alto, forte em cima de uma moto que estalou um beijo em sua direção e com o pescoço fez um convite para subir no veiculo. Prontamente ele recusou e pensou que o homem estava com má intenção. O gesto foi seguido por três outros haitianos que aproximavam de suas malas empoeiradas.

“Fui numa loja que tinha uma mulher linda, alta, de cabelos longos e pelo visto dona do lugar. Antes de perguntar como conseguiria um táxi, ela fez o mesmo gesto que os homens da moto. Pense! puxa to palpitando o coração dessa gente, sou bonito mesmo!... Até que descobri que eram apenas cumprimentos e espécie de indagações como; O que você quer? O que procura? Quer táxi?”, explicou e continuou, “aí entendi que aquilo era um cumprimento e não uma paquera ou cantada”.

“Na fronteira do Haiti, presenciou algumas pessoas vestidas de branco que nem os praticantes do candomblé, que dançavam, cantavam e bebiam. Um deles me ofereceu um copo de cachaça, tomei e segui o grupo que dançava para comemorar alguma coisa boa. Mais na frente, entramos numa caverna onde ouvi uma voz trêmula e um senhor sentado e em sua volta havia crânios e velas. Ele era alto e tinha olhos brancos (parecia cego), e as pessoas faziam filas para entregar alimentos, cachaça e dinheiro. Enquanto chegava a minha vez, sem presente algum, notei que em sua barba grande, havia muitas abelhas que faziam um barulho estarrecedor. Quando chegou a hora de entregar o que não tinha, passei minha mão próxima à barba dele (que tinha mel) para espantar as abelhas. Aquilo foi uma afronta. Todo mundo correu com medo das abelhas e alguns homens corriam atrás de mim. Dois deles me alcançou e fui jogado pra fora da caverna. Depois disso, todos os lugares que visitei as pessoas me apontavam como se tivesse acusando de alguma coisa. Foi aqui que entendi que tinha acabado com um ritual deles e que o homem era um guru”, relatou.

Por minutos gargalhamos e ele continuou contando...

 “Sabe das aquelas moedas pequenas que dão de troco? Pois bem, chego à República Dominicana e quando desço do carro uma família (marido, esposa e um bebê de colo) me aguardavam. Na minha mão direita uma mala, na esquerda outra e nas mãos, muitas moedas. Daí, muito hospitaleiros, o marido pegou uma mala, a esposa mesmo com o bebê outra e minhas mãos cheias de moeda. Pedi pra levar uma mala, e eles recusaram. Novamente pedi para segurar o bebê e a mulher entregou para mim. Aproximei-me do bolso dela e disse que poderia ficar com o meu “Rípio” que na minha cidade significa piçarra (pelo tamanho e quantidade das moedas). Revoltada, a mulher começou a me tratar estupidamente, o marido soltou a minha mala e arrancaram o bebê dos meus braços. Procurei um tradutor e descobrir que, tinha oferecido no idioma deles a péle do meu pênis. Só aí descobri que as expressões eram convencionais e ainda saí do vilarejo como tarado”.

Novamente gargalhei e as pessoas próximas da nossa mesa ficaram olhando... E ele voltou a contar que...

“Sempre gostei de música, de tocar violão e ouvir a “Banda Toto”. Nas viagens pelos países, procuro conhecer as lojas que vendem discos. Encontrei uma que tinha como atendente uma moça alta com sorriso encantador. Pergunte se tinha Toto, ela fechou a cara e respondeu que tinha mais que não era mim. Sem entender apontei para o disco na prateleira e mais calma explicou que Toto em seu idioma significava vagina. Mais uma vez fiquei morrendo de vergonha”, disse.

"Insatisfeito, continuarei viajando em busca da cultura perfeita"

Chango disse que veio para o Brasil com um único objetivo; conhecer a cultura do país. Aqui conheceu uma Italiana que se apaixonou e casou. Não teve filhos com ela e confessou que o casamento não vai muito bem.

Viajou para a Bahia, Rio Grande do Sul, São Paulo, mas, o Rio de Janeiro foi o lugar escolhido para morar e construir o próprio negócio. Na cidade carioca, ele montou a El Pincel Viajeiro uma empresa especializada em pinturas corporais, em tecidos e quadros.


Pintura feita  com Spray - Arquivo Pessoal 

Pintura feita com Tinta  óleo - Arquivo pessoal 

[Veja um pouco dos trabalhos de Chango em http://pieroaranibar.artelista.com/ 
ou elpincelviajeiro@gmail.com

Ainda sedento pela cultura alheia, o peruano, viajou para o Acre onde vive há três meses e ficará até o próximo 01 de janeiro de 2013. Ele pretende retornar ao Rio de Janeiro para tocar sua empresa, e é claro, viajar por outros países do continente.

Família, saudades e futuro.

Nosso papo foi tão bom que nem percebi que havia devorado a galinha caipira. Mesmo ciente de que não encontrou a cultura que tanto almeja, pergunto como é viver longe da família.

Chango contou que seu pai e o irmão mais velho vivem nos Estados Unidos, já o mais novo, é empresário na Ilha de San Martin e sua mãe continua morando no Peru. Pergunto sobre suas filhas, lembrou-se do casamento com uma hatiana a qual ficou grávida e ambos foram morar na República Dominicana. Essa filha que ele tenta busca-la para morar no Peru ou no Brasil.

“Sinto saudade de todas, mais, a dominicana quero busca-la a qualquer custo para oferecer uma educação de qualidade e conforto”, disse lembrando-se das outras duas, “as outras peruaninhas também amo muito, de seis em seis meses vou a Lima para vê-las e matar a saudade sem contar nas conversas pelo Skype”.

Finalizando a sessão de interrogatório, pergunto sobre o seu futuro. “Meu futuro a Deus pertence. Quero rodar o mundo a fora, ir aos Estados Unidos e rever meu pai que não vejo há 15 anos. Antes de regressar, vou conhecer todas as regiões do Brasil e partirei em busca de novas realidades”, concluiu a entrevista e o almoço.

Durante horas que conversei com Chango notei que é preciso respeitar as pessoas (vestimenta, raça e ideais) e acima de tudo, é fundamental viajar mais, vivenciar coisas boas e lutar pelos sonhos. Com isso em mente, espero que 2013 seja o ano de viagens e do conhecimento, pois é ele que move o planeta. 

Na próxima postagem, vamos conhecer um Equatoriano que casou com um acreana e que não quer sair daqui jamais. Não perca! 

3 comentários:

Thaís Carvalho disse...

Ótima história!!! Vou esperar pelas outras. Parabéns pelo blog.
PS: Dica de blogueira - não sei se a sua intenção era realmente colocar o link dele dessa forma, mas o modo mais fácil é na hora da postagem você clicar em "link" na barra de ferramentas da postagem, coloque o endereço da web, e edite o texto que vc quer que apareça no link. ;)

Wanglezio Braga disse...

Oi Thaís Carvalho, obrigado pelas orientações e volte sempre. Breve, outras histórias interessantes. Fique de olho! abraço

Anônimo disse...

Saibam que Piero Aranibar o CHANGO, chegou em Porto Velho e não saiu mais, encontrou uma loira linda e teve um filho com ela, ele continua pintando, dançando e cantando lindamente.
Apesar de não ter planejado nada disso, esta feliz!!!