Arquivo pessoal
Dia desses, saindo de uma
festa latina no Clube Tentamen, encontrei um homem de estilo diferente,
trajando jaqueta preta, cabelo estilo Neymar, uma trança que caia de lado no
pescoço, óculos escuros e de sandálias.
Muito sorridente e simpático
com a minha amiga, que estava magnífica naquela noite, identifica-se como “Chango”
nascido em Lima, Capital do Peru.
Cumprimentamos-nos e
começamos a papear sobre as danças latinas e das musicas que estava tocando. Prontamente,
minha amiga, perguntou se ele dançava salsa, merengue e a cumbia (típicas em
seu país). Sem pestanejar, ele responde com passos de cumbia e diz que dava
aula de dança (pra não dizer show).
Como de sempre, Ângela e eu,
caímos na gargalhada e não botamos muita fé no gingado do peruano esquisito.
Saímos para comprar chiclete
de caixinha na Rua 24 de janeiro e quando voltamos, encontramos o Sr. Chango rodopiando
no salão com uma morena que dançavam freneticamente um lambadão. Nessa hora, Angel
e eu, ficamos impressionados com aquele rodopiado e gingado que ambos faziam.
Confesso que até tentamos
pegar alguns passos, mais não dava, eram rápidos demais e tínhamos outra festa
para irmos (não poderíamos suar).
Arquivo pessoal
Dias depois, novamente, Ângela eu, fomos dar um bordejo no Novo Mercado Velho onde acontecia uma feira artesanal.
De repente, avistamos uma roda e no meio, um artista de rua pintando belíssimos
quadros. Quem era? “Chango” o dançarino. Esperamos acabar a apresentação, fomos
correndo cumprimenta-lo.
Com jeito simpático e “Hermano”
de tratar os outros, foi logo dizendo que tinha uma cabeça boa e que se
lembrava dos nossos rostos.
Novamente papeamos por
algumas horas, trocamos contatos, e marcamos para nos ensinar uns passos na
casa da Ana. Mesmo assim, combinamos para o dia seguinte tomar uma cerveja no
mercadão e almoçar um tambaqui frito.
Chegando lá, encontro o
peruano vestindo uma camisa laranja com desenhos indígenas dizendo que havia
confeccionado a camisa. Daí, pergunto sobre sua profissão. Ele relatou que era professor
de dança, guia turístico, artesão, pintor de quadros feito com tinta óleo/spray,
empresário, músico e que falava francês, português, inglês e italiano.
Explicou que seu nome
verdadeiro era Piero Aranibar B., mas era conhecido por “Chango” que significa “macaco
forte”, tendo em vista que desde pequeno malhava e quando passeava por seu
bairro todos gritavam “lá vai o Chango!”.
Aos 36 anos, Piero Aranibar
é pai de três meninas sendo duas peruanas e uma dominicana. No Peru, casou-se
bem cedo e depois terminou o relacionamento onde viajou para outros países da America
do Sul e ilhas do Caribe em busca de conhecimento, aventura e novos amores.
Ele conta que desde pequeno
se considerava um artista e que sua cidade, Lima, não proporcionava cultura e
arte suficiente. Por meio das viagens que fazia se deleitava em conhecimento,
aventura e quebrava paradigmas impostos por sua mãe.
“De trem, avião, barco,
carro, moto e até de pé”, explica ele, “conheci Argentina, Chile, Bolívia,
Equador, Colômbia, República Dominicana, San Martin, Haiti e agora, o grandioso
Brasil”.
Por onde passou, aprendeu!
Aprendeu que é preciso respeitar a cultura de cada povo e que é fundamental ser
assertivo (ter inúmeras qualidades) para ser mochileiro, e no final, sobreviver.
Chango - hora dava atenção
ao prato de galinha caipira, hora conversava comigo - contou das inúmeras histórias
que presenciou em suas andanças pelo mundo a fora e que me fez gargalhar e
imaginar tais situações.
Chango relatou que em sua viagem
a Porto Príncipe, capital do Haiti, esperava na rodoviária um táxi para leva-lo
até o hotel. De repente, encontrou um homem negro, alto, forte em cima de uma
moto que estalou um beijo em sua direção e com o pescoço fez um convite para subir
no veiculo. Prontamente ele recusou e pensou que o homem estava com má intenção.
O gesto foi seguido por três outros haitianos que aproximavam de suas malas empoeiradas.
“Fui numa loja que tinha uma
mulher linda, alta, de cabelos longos e pelo visto dona do lugar. Antes de
perguntar como conseguiria um táxi, ela fez o mesmo gesto que os homens da moto.
Pense! puxa to palpitando o coração dessa gente, sou bonito mesmo!... Até que
descobri que eram apenas cumprimentos e espécie de indagações como; O que você
quer? O que procura? Quer táxi?”, explicou e continuou, “aí entendi que aquilo
era um cumprimento e não uma paquera ou cantada”.
“Na fronteira do Haiti,
presenciou algumas pessoas vestidas de branco que nem os praticantes do
candomblé, que dançavam, cantavam e bebiam. Um deles me ofereceu um copo de
cachaça, tomei e segui o grupo que dançava para comemorar alguma coisa boa.
Mais na frente, entramos numa caverna onde ouvi uma voz trêmula e um senhor
sentado e em sua volta havia crânios e velas. Ele era alto e tinha olhos
brancos (parecia cego), e as pessoas faziam filas para entregar alimentos,
cachaça e dinheiro. Enquanto chegava a minha vez, sem presente algum, notei que
em sua barba grande, havia muitas abelhas que faziam um barulho estarrecedor.
Quando chegou a hora de entregar o que não tinha, passei minha mão próxima à
barba dele (que tinha mel) para espantar as abelhas. Aquilo foi uma afronta.
Todo mundo correu com medo das abelhas e alguns homens corriam atrás de mim.
Dois deles me alcançou e fui jogado pra fora da caverna. Depois disso, todos os
lugares que visitei as pessoas me apontavam como se tivesse acusando de alguma
coisa. Foi aqui que entendi que tinha acabado com um ritual deles e que o homem
era um guru”, relatou.
Por minutos gargalhamos e
ele continuou contando...
“Sabe das aquelas moedas pequenas que dão de troco?
Pois bem, chego à República Dominicana e quando desço do carro uma família (marido,
esposa e um bebê de colo) me aguardavam. Na minha mão direita uma mala, na
esquerda outra e nas mãos, muitas moedas. Daí, muito hospitaleiros, o marido
pegou uma mala, a esposa mesmo com o bebê outra e minhas mãos cheias de moeda.
Pedi pra levar uma mala, e eles recusaram. Novamente pedi para segurar o bebê e
a mulher entregou para mim. Aproximei-me do bolso dela e disse que poderia
ficar com o meu “Rípio” que na minha cidade significa piçarra (pelo tamanho e
quantidade das moedas). Revoltada, a mulher começou a me tratar estupidamente,
o marido soltou a minha mala e arrancaram o bebê dos meus braços. Procurei um
tradutor e descobrir que, tinha oferecido no idioma deles a péle do meu pênis. Só
aí descobri que as expressões eram convencionais e ainda saí do vilarejo como
tarado”.
Novamente gargalhei e as
pessoas próximas da nossa mesa ficaram olhando... E ele voltou a contar que...
“Sempre gostei de música, de
tocar violão e ouvir a “Banda Toto”. Nas viagens pelos países, procuro conhecer
as lojas que vendem discos. Encontrei uma que tinha como atendente uma moça alta
com sorriso encantador. Pergunte se tinha Toto, ela fechou a cara e respondeu
que tinha mais que não era mim. Sem entender apontei para o disco na prateleira
e mais calma explicou que Toto em seu idioma significava vagina. Mais uma vez
fiquei morrendo de vergonha”, disse.
"Insatisfeito,
continuarei viajando em busca da cultura perfeita"
Chango disse que veio para o
Brasil com um único objetivo; conhecer a cultura do país. Aqui conheceu uma
Italiana que se apaixonou e casou. Não teve filhos com ela e confessou que o
casamento não vai muito bem.
Viajou para a Bahia, Rio
Grande do Sul, São Paulo, mas, o Rio de Janeiro foi o lugar escolhido para
morar e construir o próprio negócio. Na cidade carioca, ele montou a El Pincel Viajeiro uma empresa
especializada em pinturas corporais, em tecidos e quadros.
Pintura feita com Spray - Arquivo Pessoal
Pintura feita com Tinta óleo - Arquivo pessoal
[Veja um pouco dos trabalhos
de Chango em http://pieroaranibar.artelista.com/
ou elpincelviajeiro@gmail.com
ou elpincelviajeiro@gmail.com
Ainda sedento pela cultura
alheia, o peruano, viajou para o Acre onde vive há três meses e ficará até o
próximo 01 de janeiro de 2013. Ele pretende retornar ao Rio de Janeiro para
tocar sua empresa, e é claro, viajar por outros países do continente.
Família,
saudades e futuro.
Nosso papo foi tão bom que
nem percebi que havia devorado a galinha caipira. Mesmo ciente de que não
encontrou a cultura que tanto almeja, pergunto como é viver longe da família.
Chango contou que seu pai e o
irmão mais velho vivem nos Estados Unidos, já o mais novo, é empresário na Ilha
de San Martin e sua mãe continua morando no Peru. Pergunto sobre suas filhas,
lembrou-se do casamento com uma hatiana a qual ficou grávida e ambos foram
morar na República Dominicana. Essa filha que ele tenta busca-la para morar no
Peru ou no Brasil.
“Sinto saudade de todas, mais,
a dominicana quero busca-la a qualquer custo para oferecer uma educação de
qualidade e conforto”, disse lembrando-se das outras duas, “as outras peruaninhas
também amo muito, de seis em seis meses vou a Lima para vê-las e matar a
saudade sem contar nas conversas pelo Skype”.
Finalizando a sessão de
interrogatório, pergunto sobre o seu futuro. “Meu futuro a Deus pertence. Quero
rodar o mundo a fora, ir aos Estados Unidos e rever meu pai que não vejo há 15
anos. Antes de regressar, vou conhecer todas as regiões do Brasil e partirei em
busca de novas realidades”, concluiu a entrevista e o almoço.
Durante horas que conversei
com Chango notei que é preciso respeitar as pessoas (vestimenta, raça e ideais)
e acima de tudo, é fundamental viajar mais, vivenciar coisas boas e lutar pelos
sonhos. Com isso em mente, espero que 2013 seja o ano de viagens e do conhecimento,
pois é ele que move o planeta.
Na próxima postagem, vamos conhecer um Equatoriano que casou com um acreana e que não quer sair daqui jamais. Não perca!
3 comentários:
Ótima história!!! Vou esperar pelas outras. Parabéns pelo blog.
PS: Dica de blogueira - não sei se a sua intenção era realmente colocar o link dele dessa forma, mas o modo mais fácil é na hora da postagem você clicar em "link" na barra de ferramentas da postagem, coloque o endereço da web, e edite o texto que vc quer que apareça no link. ;)
Oi Thaís Carvalho, obrigado pelas orientações e volte sempre. Breve, outras histórias interessantes. Fique de olho! abraço
Saibam que Piero Aranibar o CHANGO, chegou em Porto Velho e não saiu mais, encontrou uma loira linda e teve um filho com ela, ele continua pintando, dançando e cantando lindamente.
Apesar de não ter planejado nada disso, esta feliz!!!
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