Mostrando postagens com marcador Forest of Brazil. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Forest of Brazil. Mostrar todas as postagens

sábado, 16 de janeiro de 2016

Mariete e o Fusca: Uma história de amor desfeita depois de quase 40 anos


O Fusca amarelo colonial é datado de 1978 (Foto Arquivo pessoal)

A proximidade de um novo ano invariavelmente nos leva a desapegar de coisas que nos acompanham na vida. Alguns se desprendem de sentimentos negativos, outros de objetos recém-arranjados e existem também aqueles que corajosamente desapegam de bens adquiridos há muitos anos, uma eternidade.

Janeiro sempre chega encorajando novas propostas. Por algum motivo, o primeiro mês do ano parece mais propício a uma faxina. E como essa afirmativa é verdadeira! Talvez uma data para que as pessoas entendam que só há perda se há posse, e essa é apenas uma sensação.

Por onde ela passava em Rio Branco, mais precisamente na Cohab do Bosque, logo chamava atenção de todos. Loira, olhos claros, alta e com um timbre de voz marcante. Mas, não era realmente tão somente isso que atribuíam tantos olhares para a educadora, Mariete Morte da Costa, mais ronco do motor e o brilho da lataria do seu veículo, um autêntico fusca da Volkswagen adquirido na década de 70.

Nascida em Xapuri, Mariete é bem quista por amigos e vizinhos. Tem uma fama de viajante, por sempre estar de bem com a vida e ser amante de um fusca amarelo colonial. Foi no dia 07 de novembro de 1978 que essa história de amor teve início.

A amiga dela, dona Ziza Castelo, foi a responsável por essa união. Ziza atravessou a cidade e levou Mariete a uma concessionária de Rio Branco para comprar um carro. Tido como popular, fácil de dirigir, incomparável em seus traços arredondados e simpáticos, resistente na força bruta da lataria, o fusca foi o escolhido dentre tantos outros. O negócio foi feito e o consórcio garantido.

Certa vez, ao andar pelo centro, Mariete foi abordada por um cidadão que deu a notícia de que ela havia sido contemplada no sorteio. Ela estava na segunda prestação do consórcio. “Eu corri pra loja e cheguei lá o gerente realmente havia confirmado o sorteio. Fiquei muito feliz, porém, havia um problema muito grande, eu não sabia dirigir”, comenta.

Um amigo foi chamado para levar o carro até um posto de gasolina que ficava a poucos metros de sua casa. Foi justamente esse amigo que deu as primeiras aulas para Mariete, mas, ela optou por receber as instruções numa autoescola. Não demorou muito para que a máquina funcionasse e ela aprendesse de fato a manobrar o veículo. Tanto que foi a estrada de Sena Madureira a escolhida para uma corrida.

“Até que um dia eu resolvi sair sozinha pra ir à faculdade. Liguei, dei uma ré e o carro ficou com as duas rodas sem tocar ao chão, tudo por que a ré foi demais e era um local alto do estacionamento no posto. Eu gritava por socorro e uma multidão apareceu para tirar o carro daquela condição. Depois disso eu fui praticando e aprendendo a dirigir”, relata.

A nossa personagem de hoje alcançou a época em que a sociedade ainda esboçava muito preconceito por mulheres que dirigiam. Mesmo que muitas delas possuíam seus próprios veículos. Ela lembra que grande parte das universitárias e funcionárias do estado eram criticadas e serviam como objetos de piadas. No entanto, não era somente a barreira do preconceito que as motoristas precisavam vencer.

A cidade ainda em plena transformação possuía poucas ruas asfaltadas ou tijoladas. As sinuosas ladeiras causavam sensações de medo e agonia. O trânsito para a época já era considerado perigoso e principalmente movimentado.

“Naquele tempo eram poucas as mulheres corajosas que seguiam pela Avenida Getúlio Vargas. Muitas faziam o desvio na rua de trás. Foi numa dessas ladeiras que tive um problemão com o sinal que havia ficado verde e a movimentação de gente era grande. Eu não conseguia sair do lugar. Passei uns quinze minutos que não sabia se subia ou descia e os motoristas de trás tudo buzinando. Até que um taxista veio e me ajudou a sair daquele sufoco, graças a Deus”, lembra.   

“Se ele falasse...”

O Fusca não é grande, não alcança grandes velocidades e tampouco é moderno tanto que foi aposentado das fábricas brasileiras em 1997. No entanto, acredite, é melhor não subestimá-lo principalmente quando muitos bons momentos aconteceram graças ao seu potente motor.

“Se o fusca falasse, ele diria muita coisa indevida (...) Tudo que eu já vivi com ele daria um bom livro. Vou te contar; Aproveitei muito neste carrinho! Namorei, ia pra todo canto com ele, viajava e saia com a galera chegando sete a oito horas da manhã (...) Ele teve até umas quatro batidinhas, coisa leve nada grave”, dispara Mariete acompanhado de uma sonora gargalhada.

Por onde ela passava em Rio Branco logo chamava atenção de todos (Foto: Wanglézio Braga)

Sortuda

Mesmo sendo um carro popular e considerado por muito um veículo ultrapassado, o fusca continuava sendo o “queridinho” da educadora. Tanto que ela foi contemplada com outros dois consórcios. Desta vez de carros bem melhores e mais modernos. Só que isso não foi o suficiente para ela abandonar seu xodó. “No segundo consórcio fui contemplada também na segunda parcela. Já o terceiro, na quarta prestação eu vendi o carro. Hoje, estou querendo entrar em mais um para adquirir um automóvel melhor. Será terei sorte mais uma vez?”, comenta.  

Assédio

Quem possui uma relíquia dessas sempre sofre com o assédio. No caso dela, será que ela sofreu desse mal?. “Uma vez um senhor me parou no trânsito e fez uma proposta. Disse que eu estava precisada de dinheiro. Só que não era verdade. Ele era apenas um dos milhares que queria comprar meu fusca a qualquer custo. Já me ofereceram muito dinheiro, só que não tive coragem de aceitar”, recorda.  

Quase 40 anos depois...

O tempo passa e também a sensação de desapego acompanha a vida. Talvez por nossa natureza ou tendências do mundo globalizado, que usa do materialismo para tem uma oportunidade de nos reciclar, isso pode produzir o chamado sofrimento da perca.

Para a filosofia oriental, na qual é um dos mais importantes ensinamentos, o desapego não é uma rejeição e sim uma liberdade que se sobressai quando deixamos de nos prender. Mas desapego é algo maior. É saber deixar para trás o que quer que seja sem sofrimento. Será?

O apego é visto muitas vezes como algo positivo, como se fosse sinal de cuidado. A preocupação com alguma situação é uma manifestação do apego. Tem gente que não se permite relaxar diante de algo que ainda não foi resolvido porque acha que isso seria uma forma de desleixo e, assim, não consegue se desapegar.

"O tempo de dizer adeus chegou e não estou arrependida", diz ela (Foto Arquivo Pessoal)
No caso de Mariete da Costa foram quase 40 anos tendo o fusca como seu fiel cúmplice. Mas, no inicio desse ano o amarelinho foi vendido por uma quantia razoável na tabela econômica do mercado automobilístico. Porém, se desfazer dele não foi tarefa fácil.

No final do ano passado quem passava na frente da sua casa avistada o fusca amarelo, mas, poucos dias depois a garagem estava completamente vazia.

“Todo mundo diz que o fusca é a minha cara. Ele passou a ser um símbolo da minha vida. Sei lá, acho que não sou muito apegada aos bens. Talvez ele fosse o bem que mais me apeguei na vida. Antes de passar a diante ao novo dono, o máximo que pude fazer foi dar a última volta e fazer umas fotos”, comenta Mariete visivelmente emocionada, porém, com um semblante firme.

Desapegar-se significa ficar em paz, mesmo enquanto acontece algo que desejaríamos que fosse diferente ou enquanto algo não foi resolvido. Bom ainda é pode até parecer cedo, afinal, é possível contar nos dedos os dias em que ela “desapegou do seu fusca”. Para começar 2016 com essa mentalidade, ela faz questão de deixar seu recado.


“Não adianta a gente se apegar. A gente morre, e tudo fica aí. Podemos ter rios de dinheiro. Eu não me arrependi do fusca. Sou grata pela ajuda que me deu quando minha mãe precisou, quando cursava a faculdade ou ia para o trabalho nele. O tempo de dizer adeus chegou e não estou arrependida”, finaliza.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

VIAGEM AO PERU - LIMA, BANHO TURCO E COMIDA BRASILEIRA

Pessoal, como havia prometido irei terminar de relatar a viagem para o Peru. Depois de alguns meses, a preguiça foi embora e resolvi continuar os relatos. Onde parei mesmo? Ah sim, lembrei! Às vezes a memória da gente falha mesmo (...)

Acessa as primeiras postagens sobre a viagem e as fotos legendas. Basta clicar no link:





O objetivo principal dessa viagem aos Andes, como havia dito, era participar do casamento e também fazer um intercâmbio cultural. Só que a cerimônia foi realizada na capital – Lima - aproximadamente 15 horas de viagem de autobus (1h15mim de avião). Então tivemos que apressar nossa estadia em Cuzco embarcar o mais rápido para Lima, afinal, o dia marcado para o “sim” dos noivos estava se aproximando.


SUBINDO, SUBINDO, DESCENDO, DESCENDO

Emerson posando no box da Flores, empresa de ônibus 



Saímos por volta das 23 horas. Cuzco estava terminantemente gelada. Tinha sido assim todas as noites. Barbosa e eu fomos pra famosa Rodoviária Internacional. A empresa que havíamos comprado às passagens, Flores, atrasou o embarque. Já visivelmente cansados e sonolentos, resolvemos passar a hora conversando com alguns turistas. Gente que nem imaginávamos de suas respectivas existências. A recíproca era verdadeira. Quando dizíamos que éramos do Brasil, o pessoal já abria um sorriso. Isto facilitou o contato.

Do vai e vem, notamos que apesar do barulho, dos gritos intermináveis das vendedoras de passagens que esgoelavam (Arequipa! Arequipa! Arequipa! Puno! Puno! Nazca! Nazca!) com um tom mais agudo que possa existir (Tom que doía nos tímpanos, nos cumes dos montes, na cachola), existiam pessoas que dormiam tranquilamente agarradas com suas malas. Outras até escreviam relatos e algumas fingiam que estavam lendo, mais que nada verdade estava de olho no fluxo.

Lá pelas tantas, uma comissária de terra gritou: “Lima! Lima! Lima! Miraflores salindo”. Nós corremos! Pegamos as nossas coisas e entramos no ônibus. De longe o veículo era novinho e bonito. Três andares! Uma maravilha de ônibus. Poltronas confortáveis e em nossa volta pessoas não tão simpáticas assim. Lembro-me de uma senhora que olhava várias vezes para mim. Sem entender eu respondia com um sorriso. Ela desviava os olhos. Volta e meia pegava ela olhando para mim. Seria amor? Admiração? Deixa pra lá.

Um filme de terror e outro da anaconda nos fizeram companhia 

O trajeto como havia esperado era subir e subir. Assim foi por longas horas. Sabe aquela sensação de subir uma escada estilo caracol? Era assim que nos sentíamos. Subia, subia, subia, subia e parecia que não tinha mais fim. Depois o ouvido começava a zunir. Adivinha quem estava dando as boas vindas? A bendita altitude. Emerson reclamou de dores. Eu não tive problemas, estava concentrado com meu MP3 que tocava freneticamente 14 bis, Caetano Veloso, Maná e também Flavio Venturini. Era o melhor remédio contra o ‘soroche’.

De repente tudo mudou. Começamos a descer, descer, descer, descer. Mais não era uma decida normal, como a gente desce a ladeira da Maternidade. Era com curvas, algo descomunalmente rápido. A barriga só sentia a pressão. Foi assim por muitos tempos. De repente, a senhora que tanto me olhava começou a passar mal. Usou o saquinho. O filho dela também. Ela tira de dentro da bolsa um maço de folhas de coca e oferece. Por educação, aceitei mais não masquei.

Tivemos uma parada. O motorista gritou que em “média hora” voltaríamos para o ônibus. A galera correu para o restaurante do posto de gasolina. Foi nesse lugar que experimentei uma comida deliciosa “aji de pollo”. Uma papinha feita de frango com um gosto de caldo knnor e arroz branco. Que gostosura! Emerson foi para o tradicional Lomo Saltado. Para ficar ainda melhor tomamos uma gelada gaseosa, para não dizer Inca Cola. Depois de engolirmos, o ônibus já estava nos esperando.

O sol já nasce bem brilha nos céus do Peru
O dia estava amanhecendo a lua gigante ainda estava brilhando intensamente no céu. Já era possível depois de tanta subida e descida andar em linha reta e enxergar a vida no campo. Quando a gente trafega pela carreteira peruana é comum encontrar camponeses movimentando suas plantações. Os animais também são comuns nas estradas. A cada ponto da estrada era possível ver a variedade de plantações. Algumas até coloridas. Normalmente as casas feitas de barro davam um charme ou um tom bucólico típico do nordeste brasileiro. Sabe?

À medida que o dia clareava tínhamos a oportunidade de conhecer um pouco mais desse rico país. Lembro que em certo momento via uma linda cachoeira fazendo seu trajeto entre os paredões de pedras e formando um lago de coloração verde. A vontade de descer do ônibus para ir tomar banho era muito grande. Na realidade era maravilhosamente clara água que dava o charme aquele lugar. Com certeza era muito gelada, durante bom tempo não via ninguém tomando banho por lá. Só pescando. Mais foi uma das imagens que não me sai da memória.
A imagem mudava a medida que fazíamos uma curva


BEM VINDOS À LIMA!

A cada parada pelas cidades, pensávamos que Lima nunca ia chegar, mais fácil chegar à tangerina, limão, laranja do que na bendita Lima. Talvez a ansiedade adicionada no liquidificador com um pouco do tédio, acrescentada com o mau cheiro que estava dentro daquele ônibus passava essa impressão. Foi muita concentração porque o aji que havia comido na madrugada queria sair pela boca e não saiu. O cheiro insuportável do banheiro e que se misturava com os saquinhos de vômito jogados nojentamente no chão pelos passageiros exalava um odor do apocalipse.

Resumindo o contexto: Se for a Lima de ônibus procure outras empresas. A flores foi irresponsável por não fazer a baldeação no ônibus. Tivemos que aguentar calados aquela falta de respeito com o cliente. Mais graças a Deus chegamos a Lima ainda pela tarde. Estava com um tempo muito nublado, escuro. Já se passava das 13 horas. De longe avistávamos os bancos de areia formados por dragas e que seriam transportadas em seguida. O fluxo de carro começava a aumentar. Grandes lojas, supermercados e prédios começavam a surgir.

Numa parada para o desayuno (Café da Manhã) próximo a Lima
Êba! Chegamos a capital peruana. Do ponto que estávamos trafegando ainda era o início da cidade. Rodamos muito ainda para chegar até o terminal da Flores. Por falar nisso, em Lima não existe um terminal rodoviário público como uma rodoviária. Cada empresa tem seu próprio terminal. Ou seja, antes de chegar a Lima é importante saber a localização do seu desembarque. Às vezes existem vários terminais dessas empresas espalhadas pelas zonas aí complica sua vida.

Pegamos um taxi e fomos para o hotel. Chegamos bem. Tomamos um banho bem quente, relaxamos e fomos comer. Na Avenida do nosso hotel (Avenida Internacional), existem vários restaurantes, comércios, casas de banhos turcos e massagem e ainda de quebra um metrô barulhento. Depois de passar o pano pela avenida, ligamos para a nossa amiga e avisamos que chegamos bem. Fomos dormir e preparar nossas coisas para o dia seguinte.

FAROFA DE OVO, BANHO TURCO E SHOPPING

Num pedágio que funciona dentro de Lima 
A cidade de Lima é muito parecida com São Paulo (Brasil). Muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, muita informação, é muito grande e também agitada. Tomamos café e esperamos a Ângela nos buscar no hotel. Foi muito bom revê-la. Deu para perceber que estava muito feliz por nosso reencontro. Levou-nos para a sua casa e adivinhem o que ela preparou? Arroz, feijão e farofa de ovos bem ao estilo brasileiro. Não pensem que esse seria o cardápio original. Ela já havia planejado um banquete, mas por atender um desejo nosso, ela quebrou “essa castanha”. Foi o melhor arroz com feijão e farofa de ovo com farinha de Cruzeiro do Sul que comi na minha vida. Uma Inca Cola foi adicionada a mesa para não perder a tradição.




Na cozinha, ela deu um show. Cardápio: Arroz, Feijão e Farofa de Ovo
A tarde foi tão gostosa que quase não tivemos tempo de rir. Era só gargalhando.
Do outro lado da rua uma bandeira do Brasil chamava atenção


Uma sopa de carne, macarrão e ovo. De entrada torradas e manteiga

Foi ótimo o reencontro. Conversamos sobre nossas profissões, sobre nossos amigos, sobre os bons momentos na redação do Jornal O Rio Branco. Além de fazer comida, imaginem só o que faziam os três jornalistas juntos: falar da vida dos outros. Depois fomos conhecer o restante da casa. A melhor parte foi a sacada do prédio. Ficamos lá por horas, bebendo um bom vinho, comendo besteira e rindo muito. Sem dúvidas fora uma oportunidade de matar a saudade do nosso país, afinal, o espanhol ficou de escanteio durante essas horas.
A noite estava friorenta e a neblina tomou conta

A noite chegou e fomos passear pela Av. Internacional. Por todos os lados que olhávamos existiam a tal “Chifa  Wok” que são restaurantes asiáticos. Parecia até que naquele lugar habitavam somente chineses, indianos, coreanos, tailandeses etc. Na realidade a gastronomia peruana é bem diversa e consegue reunir as iguarias de todos os países do mundo, numa grande mesa gastronômica.

À medida que andávamos pela Internacional encontramos também os banhos turcos. São casas de massagem que oferecem atividades relaxantes, com piscinas de água quente e saunas. Resolvemos entrar para conferir o que rola por lá. Confesso que fiquei surpreso. Muita gente falava mal desses ambientes principalmente no quesito promiscuidade mais não vi nada demais. As pessoas visitavam esses espaços para relaxar e fazer a limpeza corporal, ou até mesmo acessar a internet.

Foi possível encontrar várias qualidades de sabonetes, shampoos, pentes e barbeadores todos de grátis espalhados pelos balcões. Numa ala, você poderia pegar a sauna seca. No outro lado, sauna a vapor com cheiro de citronela exalando pelo ambiente. Mais a adiante, uma Lan House e um bar funcionava normalmente dentro do estabelecimento. Todo mundo de toalha ou roupão. Não era permitido ficar pelado por lá. Aproveitamos mais a piscina e a sauna. Realmente foi relaxante. Deu para curtir.

Uma das torres do shopping

o que mais chamou atenção foram as poucas coberturas do prédio
Fomos em seguida para o hotel se arrumar e aguardar a Ângela e seu noivo para irmos ao restaurante e logo depois ao Shopping Jockey Plaza. Um moderno e novo shopping que intriga os visitantes pelo tamanho e ainda por sua arquitetura. Quase não existe teto. Ele é mais ao ar livre do que coberto. Um encanto de lugar. Várias marcas de roupas internacionais, parques e restaurantes. Foi bom conhecê-lo.

No outro dia era a hora do “sim” ou “si”. O casamento do ano estava realmente se aproximando. Como convidado especial precisava descansar e preparar a roupa. Então seguimos para o hotel. Claro que não poderia resumir o casamento deles assim nessa postagem. Vou elaborar um bem especial. Porém, fique com algumas imagens que separei do nosso trajeto Cuzco/Lima.










quarta-feira, 6 de agosto de 2014

FOTO LEGENDA II- VIAGEM AO PERU - BANHO QUENTE/FRIO, FESTA E GUERRA DOS IDIOMAS

Foto Legenda  - Parte II

Banca que vendia, além de balas e biscoitos, humildade e simplicidade  


As ruas são limpas e feitas de pedras. Ao fundo parte
de uma das igrejas e Praça das Armas


Prédio de uma Universidade em Cuzco


Um comércio que funcionava na rua do nosso hotel. Lá dentro você encontra mais lojas, funciona como uma galeria.


Depois do almoço estava preparado para conhecer a Cidade dos Incas. 


Essas senhoras aparentemente simpáticas, pedem para tirar uma foto, porém, no final do registro
você é coagido a pagar uma "propina". 


Nessa casa de café tomei o melhor capuccino do mundo. 


As ruas são estreitas e movimentadas. Calçadas são pequenas. Tenha cautela ao trafegar por elas. 


Os americanos que fizemos os primeiros contatos. Eles queriam conhecer o Brasil logo após o passeio pelo Peru. 


Sanduíches vendidos na rodoviária Internacional de Cuzco. Eles são gigantes! 


Esse foi um dos melhores registros. O que comprova que o Jornal Impresso, apesar da internet, ainda é muito importante para cultura  e conhecimento de um povo. Confesso que fiquei emocionado com esta cena. 


Bem perto da Praça das Armas tem um obelisco que vale a pena conhecer.


Seguindo a tradição européia, as casas e prédios em Cuzco possuem sacadas.No final de tarde, elas ficam ocupadas por seus moradores e convidados. 


FOTO LEGENDA I - VIAGEM AO PERU - O ESTRANHO, O MEDO E O DESEMBARQUE EM CUZCO

Foto Legenda - Parte I 

Prédio da Aduana em Assis Brasil (última cidade brasileira). Para chegar no Peru basta atravessar uma ponte 



Meu companheiro de viagem, Emerson Barbosa e o Gregory que havíamos conhecido na Rodoviária de Rio Branco 


Tuque-tuque peruano. Quando se atravessa de Assis Brasil para Iñapare (primeira cidade peruana) é possível andar nesse tipo de transporte 


Com os funcionários da Movil Tur. Os dois trabalham como "Comissários de Terra".  Foto registrada logo após saída da setor de Imigração do Peru


Quem trafega pela Carretera Transoceânica encontrará cenas como esta. Caminhões carregados de madeira extraído da floresta amazônica 


Primeira parada no ponto do pedágio. A Transoceânica é cuidada por empresa terceirizada.  


Nos primeiros quilômetros de viagem é possível encontrar dragas retirando areia do rio que corta a região.


O garimpo na região é muito forte. A busca pelo ouro mata o homem, mata a floresta, mata você.


Inúmeros povoados que habitam na estrada. Casas simples e vida pacata chama atenção de quem está passando.


Painel que retrata a região de Madre de Dios. Essa foto foi registrada na Rodoviária de Porto Maldonado (capital)


Quem desembarca na Rodoviária de Porto Maldonado encontra inúmeras banquinhas com produtos artesanais. Os biscoitos nos chamam a atenção. Tem cada gostosura....


Em algum momento da viagem uma pausa para registrar as montanhas das Cordilheiras dos Andes. 



No comércio de Cuzco encontrei esses dois irmãos vendedores super animados. Fizeram-me vestir essa roupa, comum por lá, como batismo. 



quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

De jogador equatoriano famoso a microempresário no Brasil



Júlio César na estrada do Equador - Arquivo Pessoal

Nuvens carregadas ameaçavam chover a qualquer hora na tarde de hoje, mesmo assim, pego minha motoca em busca de mais um personagem. Desta vez, indicado por Chango o dono da (El pincel viajeiro). Pelas descrições do peruano, procuro um rapaz franzino, de traços indígenas e com sotaque Castelhano/português e proprietário de um lanche.

No bairro indicado, ninguém o conhece, até que estaciono próximo a um comércio e pergunto: - Conhece algum equatoriano?

Assustado, Júlio César Hernandes, de 26 anos, respondeu que é equatoriano, e retribuiu minha pergunta com um olhar de medo, curiosidade e esperança.

Tiro o capacete, cumprimento-o, me identifico e pergunto se poderíamos conversar. Levou-me até a sua casa que fica a poucos metros do rio Acre para mostrar como vive com sua namorada, o que faz no Brasil e relatar a sua interessante história de vida.

Chegando a sua residência humilde, cedida pelo sogro, me convidou para entrar e a chuva que ameaçava cair, desabou por longas horas. Mesmo assim, começamos a papear, e ele disse que enfrentou cinco dias dentro do ônibus para realizar um sonho em terras brasileiras, ou melhor, nos gramados dos times do país; ser jogado do flamengo e conhecido que nem o Zico.

Júlio é um famoso jogador profissional de futebol. Em Guayaquil, cidade habitada por 85% da população negra do Equador, jogou pelo Sociedad Desportivo Quito um dos times mais famosos, depois da seleção equatoriana. Teve ainda participação na seleção do Equador na categoria sub-20.

Antes de falar sobre sua carreira e dos primeiros dribles no futebol, ele me explicou que seu pai também era atleta e que vivia numa cidade litorânea, junto da   sua mãe e mais quatro irmãs.             

Com seu time aos 6 anos - Arquivo Pessoal 

Pergunto sobre sua infância, e apontando para a chuva, diz que o cheiro e o barulho das águas trazem boas recordações como pescar ao lado do pai na beira do mar, das excursões que fazia com os amigos em busca da onda perfeita e da água de Jamaica que pegava dos coqueiros da serra.

Relatando sobre a viagem para cá, contou que foram longas horas abordo do ônibus e que passou por cidades estranhas e deslumbrou belíssimos cenários da natureza, como por exemplo, o sobrevou de uma flamingo próximo a sua janela.

Mais calmo e empolgado, fala da viagem para Argentina. Ao completar 18 anos e se revelando um craque, embarcou e desvendou as terras de Cristina Kirchner em busca de oportunidades, mas, sem sucesso.

De volta ao Equador, trabalhou como barman em um hotel que pertencia a uma família Judia. Conheceu e fez amigos da Alemanha, Brasil, França e Peru.

Conta ele que “um homem me reconheceu na fila de emprego e elogiou meu trabalho como jogador de futebol. O judeu, dono do estabelecimento, falou que não iria me contratar por não ter perfil para a vaga. O homem que estava na fila comentou que eu era muito bom no futebol. O judeu que gosta de futebol e tem um time mais que (não sabe jogar), me convidou para jogar, no entanto, recusei porque anteriormente havia frustrado na Argentina e o judeu me ameaçou dizendo que só me aceitaria como barman se fosse jogar no seu time. Como era trabalho, e no Equador é difícil, resolvi aceitar prontamente o emprego”, disse contando ainda que “depois de contratado, todos os dias, os judeus falavam seus idiomas o que me ajudou a compreender alguns costumes e crenças”.

O desembarque em terras de Zico, Pelé e Ronaldo.

Depois de reacender a chama no time do judeu, decidiu o equatoriano que precisava ir ao Brasil e vestir a camisa de algum clube, tudo por influencias do seu pai e desejo de conhecer os seus ídolos brasileiros.

Na primeira oportunidade, Júlio com 23 anos, saiu do litoral na fronteira do Equador e Colômbia, atravessou o Peru e chegou ao Brasil pelo Acre no final de setembro de 2009. Foram longos dias dentro do ônibus (ele não tomou banho por cinco dias e só comeu pequenos lanches).

Enfrentou uma saga para receber a autorização e o visto no país. Ao chegar a em Xapuri, foi abordado pela Polícia Federal ordenou retornar à Epitaciolândia para registra-lo no sistema. Sem dinheiro, Hernanes deve que retornar a pé, mas por sorte, conseguiu uma carona até a fronteira.

Típica pochete equatoriana - Foto: Wanglézio Braga

Peço que detalhe como a cultura do seu país, rapidamente, corre até o seu quarto e trouxe consigo uma bolsa contendo algumas miniaturas típicas do Equador. Entre os objetos apresentado, uma pochete, que dentro dela havia um cordão preto e uma minúscula bolsa vermelha.

Quando peguei o objeto, disse ele que 'sentirá medo após contar a história do cordão vermelho'. Na hora pergunto porque e responde que, "é comum nas aldeias indígenas do Equador, extrair pedaços de ossos dos ancestrais para atrair sorte. Nesse que você segura, carrego pedaços do dedo do meu avô", explicou rindo da minha expressão facial.

Dentro da bolsa havia pedaços de ossos - Foto: Wanglézio Braga

Depois da explicação macabra, mudei de assunto e perguntei o que ele mais acha de diferente no Brasil. Ele respondeu que algumas expressões são bem parecidas do seu idioma e outras um tanto inusitadas.

“Certa vez, esperava o autobus (ônibus em português) juntamente com um colombiano, e duas mulheres estavam próximas a mim, de repente, o ônibus se aproximou e gritei:- Vamos colar a buceta! (Vamos pegar o ônibus!)”.

A reação das mulheres que estavam próximas, não foi a melhor. Uma delas deu tapa no  braço  de Júlio, que prontamente explicou que estava referindo-se ao ônibus. “Sem entender, todos rimos muito até perder o ônibus”, esclareceu o vocabulário aparentemente chulo.

“Costumamos comer garapa de cana que se chama “Panela” no Equador. Quando cheguei a Rio Branco fui ao supermercado para comprar, infelizmente não achei. Pedi ajuda de um funcionário que me levou a seção de panelas. Fiz cara feia, pedi uma caneta e um pedaço de papel para desenhar o que queria. Ele trouxe e para a minha sorte, um rapaz que estuda na Bolívia explicou que no Brasil chama-se “Rapadura ou Açúcar Mascavo em barra” e não panela”, contou gargalhando.

Audácia na cafeteria e sua amada namorada

Comentando sobre o assédio das fãs e dos amores conquistados, o equatoriano revela que conheceu inúmeras mulheres inclusive uma americana.

“Trabalhei em Guayaquil numa cafeteria e lá cuidava de por café na xícara e entregava aos garçons. Num dia de trabalho encontrei uma cliente americana que pediu café expresso e ficou sentada aguardando. Ela era muito bonita, por minutos fiquei contemplando aquela beleza norte-americana. Correndo o risco de perder o emprego, aprontei e fui pessoalmente servi-la. Minha supervisora ficou muito chateada por essa atitude, afinal, existem garçons para servir. Mesmo assim, falei para americana que meu expediente terminava ás 9h e desejava muito conhecê-la. Ela concordou e voltei ao meu setor onde recebi uma advertência”, relatou e continuou, “namorei com ela por alguns anos onde aprendi falar inglês. Planejamos morar nos Estados Unidos, mas isso não foi possível por causa da burocracia americana. Ela foi embora e nunca mais nos falamos”, lembrou.

“Quando desembarque em Rio Branco as pessoas diziam que encontraria mulheres bonitas. Atestei quando conheci a minha atual namorada. Ela trabalhava num lanche no centro. Quando ela passava pela Gameleira meu coração palpitava. Certa vez a encontrei numa festa. Ela estava toda linda de cabelo encaracolado, maquiada e usava um batom que chamava atenção. Apaixonei-me mais ainda nessa hora. De repente, passei a visitar sua casa uma vez por semana e conversei com o seu pai sobre o nosso namoro, estamos juntos alguns meses e espero continuar com ela, pois é batalhadora, inteligente e bonita”.

Enfrentou dificuldades e não esqueceu o futebol

No Desportivo Quito- Arquivo Pessoal

Sendo um jogador famoso em seu país, Julio César, não teve muita sorte nos gramados brasileiros, ou seja, ainda não alcançou a fama desejada. Os times de futebol acreanos não os melhores do cenário nacional, mais foi que conseguiu por enquanto.

Contou que seu primo mora em Minas Gerais, e por lá, tentou agendar uma reunião com caçadores de talentos dos times mineiros, mas espera até hoje um contato dos contratadores.

No currículo, jogou uma temporada pelo Vasco mais foi demitido por não ter conseguido regularizar os documentos junto á embaixada. A regularização é um dos principais problemas que ele enfrentou nos últimos anos (ele e muitos outros estrangeiros que chegam à fronteira do Acre).

Contou que sua família insistentemente – por telefone ou internet – por seu regresse ao Equador, ele responde que “voltarei quando realmente conseguir os meus objetivos”, afirmou com muita convicção.

Para sobreviver em solo acreano, Hernanes trabalhou como barman e técnico de refrigeração, no entanto, o preconceito por ser estrangeiro foi à causa das demissões. Por isso, resolveu criar o próprio negócio e há três meses tornou-se um microempresário.

“Já que precisava trabalhar em alguma coisa, resolvi montar o meu próprio negócio. Comprava os salgados e revendia nas ruas. Como não deu certo, aprendi a produzir os lanche e abrir uma lanchonete com ajuda do meu sogro. Junto com a minha namorada produzimos 60 salgados por dia. Graças a Deus os negócios estão indo muito bem”, contou.
Empolgado, me contou que também trabalha com peças de artesanato, no entanto, por respeito à natureza e a biodiversidade amazônica, não confecciona a arte.

Indago sobre sua carreira no futebol, dos sonhos e do futuro. Suspirando, responde que “vou conseguir! Passou alguns anos, estou me acostumando com a cidade e a cultura do povo brasileiro. Corro diariamente pelas ruas, treino futebol com um grupo de pessoas e procuro contatos.  Deus está preparando algo de bom na minha vida, eu creio!”.

Encerro a história de hoje torcendo pelo sucesso de Júlio e resumo tudo que contei em  duas citações. Uma do trecho da música do Skank que reza; “Quem não sonhou em ser um jogador de futebol? Que emocionante é uma partida de futebol”, e a outra de Clarice Lispector que diz; “Sonhe com aquilo que você quiser. Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que se quer”.