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quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Vovô Braga - 18 anos de saudades


Túmulo memorial de Antônio Ferreira Braga Filho
“Vovô”. Essa palavra me traz boas recordações e tem um significado triplo na minha vida. Foi um privilégio ter sido congratulado por ter três avôs, isso mesmo! O pai da minha mãe, Oswaldino (in memória), o marido da minha avó Lili, Antônio Vieira (esse não é de sangue, mais é meu avô por total consideração e que permanece vivo e forte), e o pai do meu genitor, Antônio Ferreira Braga Filho. É nesse último que essa palavra “vovô” tem maior sentido pra mim.

Confesso que tivemos pouco contato, porque ele morava no interior e quase não visitava a capital, Rio Branco. Saiu de Feijó só para cuidar da saúde e retornou tempos depois. Na capital, morou no conjunto Oscar Passos, na rua principal. Minha tia, Naildes Braga, na companhia da minha mãe, Dona Lora, e alguns dos meus irmãos sempre tiravam o sábado para fazer visitas a ele. Eram momentos divertidos e também cansativos. Subir a ladeira correndo, do São Francisco, não era uma tarefa fácil para um menino de seis anos principalmente quando os irmãos usavam toda a velocidade do mundo. Era longe!

Vô Braga era casado com dona Albertina (In memória), particularmente eu não gostava do jeito dela, mas, sempre tratei com respeito. Um gesto nobre de sua parte que guardo no HD da minha cachola, até hoje, era a forma como nos recepcionava. Nunca me esqueci de uma dessas visitas. Batemos palma, ele chegou ao portão vestido com shorte verde e massageando a testa dizendo que estava com dor de cabeça. O cheiro de VIC confirmava tal sintoma. Todos pediam a benção e na voz já debilitada ele fazia questão de responder um por um, mesmo que numa ligeireza. Quando chegou a minha vez, se abaixou e disse: Cadê o cheiro do vovô? Não tem não?. Lembro que dei um abraço nele, mas a barba rala incomodava e logo aquele carinho terminou.

Entramos na sua casa e minha tia danada falando dos acontecimentos da semana. Ele deitou na rede, colocou um boné azul na cabeça e ouviu a conversa toda. Meus irmãos brincavam de peteca na calçada, eu no pé da minha tia (Sempre fui muito grudado nela), minha mãe conversando na sala com dona Albertina... Até que ele me chamou, colocou no colo e perguntou:

- Você quer o bem de sua tia, quer?  - Fiz sinal de positivo com a cabeça.
- Você quer o bem da sua mãe? - Fiz sinal de positivo. E todas as vezes que ele perguntava eu analisava o significado daquelas perguntas. Elas sempre vinham com uma piscada pra minha tia. Talvez os dois combinavam, só pra saber a minha resposta.
- Você tem que cuidar delas, viu! Qualquer coisa você diz pro vovô que a gente dá um jeito. O vovô quer muito o seu bem, tá bom? – Desta vez respondi: Tá bom vovô.

Vô Braga era isso: simplório nas palavras, ao mesmo tempo, talvez pela voz, passava a impressão de que carinho e afeto eram o que importava no momento. Justiça se faça; sempre teve muito carinho pelos netos. Meus primos de Feijó ficaram responsáveis de receber boa parte desse afeto. Tenho certeza que aproveitaram. Nós da capital não tivemos muito essa oportunidade, isso ficou pro Antonio Vieira demonstrar.

Ficção. Era com ele mesmo. Vovô Braga era conhecido por contar e aumentar as “estórias”. Contava cada uma que parecia até pescador. Depois de grande, ouvi umas estórias que até duvidaria se o Brasil foi mesmo colonizado pelos portugueses.

Também era conhecido por ser um homem trabalhador. Minha vó Lili, apesar de ter seus motivos para mágoas, sempre confirmou tal adjetivo. Carteiro – foi à profissão que ele exerceu que mais admirei. Subia e descia, por dias, os rios de Feijó e região levando as correspondências numa canoa. Trabalho que ele fazia com muito esforço e esmero. Não era fácil subir por mais de 15 dias o Rio Envira. Quem mora na Amazônia sabe como isso é difícil no inverno e verão. Trabalhou também como mecânico da extinta empresa aérea Cruzeiro. Ofício que abandou depois que ela cancelou pousos e decolagens para Feijó.

Por fim, o vovô Braga morreu no dia 08 de setembro de 1998, aos 79 anos. Ainda lembro-me do choque que minha família tomou quando soubemos de sua morte. Nesse dia, eu atendi o telefone (2245813). Pediram pra chamar alguém mais velho. Minha tia, visivelmente apreensiva, pegou o aparelho da minha mão e poucos minutos, a pancada do telefone que caiu no chão ecoou no meu ouvido. O choro foi grande, o lamento também. Eu não sabia o que fazia. Se chorava com ela ou se corria até o pé de laranjeira e pegava folhas para fazer chá como sempre fazia quando Tia Naildes ficava doente. Não sai do canto. Em minutos, a mala dela estava feita, a do meu irmão mais velho, Wangley, que representou os netos que moravam na capital também estava arrumada. Eles saíram em cortejo até o Aeroporto Presidente Médici para a cerimônia fúnebre. Foi lá no saguão do aeroporto que me lembrei da fala: “O vovô quer muito o seu bem”.


09 de agosto de 2015, primeira vez na vida que pisei em Feijó. Por lá, um misto bucólico de saudade, curiosidade e medo. Talvez a ansiedade irracional de encontrar um passado que não me pertencia, me deixou assim: incompreendido. Era uma “invasão” às histórias dos meus avós? Ou um sentimento qualquer que não sei explicar? O fato é que de todos os lugares que por lá andei, foi no simplório cemitério, que nem muro existe, que animais vivem livres e passeiam entre os túmulos, que pude sentir um pouco de sua presença. Ao vovô, meu sentimento mais melancólico: A saudade.  

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Senador Guiomard é a cidade acreana que mais cai raios


O Acre ocupa a 17° posição entre os estados do país  (Foto Cedida)

O número de raios na Região Norte está aumentando e a tendência é que a incidência do fenômeno continue crescendo na região, por causa do aquecimento global. Foi o que disse uma pesquisa publicada recentemente pelo Grupo de Eletricidade Atmosférico (Gelat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Segundo dados da instituição, o Acre ocupa a 17° posição entre os estados que mais caem raios no país.

O estudo aponta que caem 4,86 raios por km2 por ano em nosso estado. O que corresponde a 0,74 (média, em milhões) referente ao ranking nacional. Os estados que mais caem raios são; Amazonas (11,00) Pará (7,38) e Mato Grosso (6,81) consecutivamente.

Senador Guiomard (AC)      (Foto Quinary On Line)
Em relação aos municípios do Acre, Senador Guiomard lidera entre as cidades que mais caem raios (7,66 - Densidade de descargas por Km ao ano). Seguido de Brasiléia 7,32 e Sena Madureira 7,02 consecutivamente.   

O raio é uma descarga elétrica de grande intensidade que ocorre na atmosfera. A intensidade típica de um raio é de 30 mil Ampères, cerca de mil vezes a intensidade de um chuveiro elétrico. Em geral, os raios provocam um clarão e, logo em seguida, um barulho denominado trovão, por causa do deslocamento de ar.

Na maioria dos casos, as pessoas são atingidas por correntes indiretas que vêm, por exemplo, pelo chão. São raros os casos em que a pessoa é atingida diretamente por um raio e quase sempre ela morre imediatamente ou, quando sobrevive, fica com graves sequelas. 

Na natureza, as descargas elétricas riscam quilômetros de céu até atingir o solo, com uma voltagem de 100 milhões de volts. Comparando com uma tomada caseira, a voltagem é praticamente 1 milhão de vezes maior.

A pesquisa divulgada ainda compara dados do primeiro levantamento de mortes por raios, de 2000 a 2009, com dados do segundo, de 2000 a 2014. De 2000 a 2014, 1.789 pessoas morreram atingidas por raios em todo o país. O número médio de mortes por ano caiu de 132 para 111, mas, apesar da redução nacional, as mortes na Região Norte aumentaram e passaram de 18% para 21% dos casos.

Brasil

Por ser o maior país localizado na região tropical, o Brasil é o sétimo em número de mortes, atrás da China (média de 700 mortes por ano), Índia (450), Nigéria (400), México (220), África do Sul (150) e Malásia (150).

Apesar da tendência de aumento de raios no Norte, de forma pontual neste verão, por causa do fenômeno El Niño, a Região Sul será muito atingida. No inverno, já registraram 500% mais raios se comparado a 2014. No Sudeste o aumento foi 100%.

Apesar do número de mortes em atividades agropecuárias ser maior, com 25% dos casos, uma das preocupações do Inpe é com o aumento, de 12% para 19%, do número de pessoas que morrem por raios dentro de casa.

Mitos e curiosidades sobre raios

Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar? Não é verdade e uma prova disso é o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, que recebe ao menos seis descargas atmosféricas por ano. A origem desse mito está nos índios, que usam pedras atingidas por raios como amuletos, acreditando que estão protegidos contra os relâmpagos.

É perigoso ficar dentro do carro durante a chuva? Na verdade, o veículo fechado é o local mais seguro contra raios – nunca ninguém morreu no Brasil atingido por raio dessa forma. Se o carro é atingido por um raio, a descarga elétrica se espalha por sua superfície metálica, sem atingir quem está dentro dele.

A pesquisa foi apresentada pelo
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
Qual é a diferença entre trovão, raio e relâmpago? Relâmpago é toda descarga elétrica emitida por uma nuvem; raio é a descarga elétrica que toca o solo. Trovão é o som produzido pela descarga elétrica.

Dá para saber a que distância caiu o raio? É possível estimar a distância em quilômetros com um cálculo simples: basta contar o tempo (em segundos) entre o momento que se vê o raio e se escuta o trovão e dividir por três obtendo-se a distância aproximada em quilômetros.

 Existem raios que não partem das nuvens? Sim, são os chamados raios ascendentes, que saem de estruturas altas (torres, prédios altos) em direção às nuvens. Correspondem a cerca de 1% dos raios. O ELAT foi o pioneiro no registro deles no Brasil, observados em torres do pico do Jaraguá na cidade de São Paulo.


Os raios são diferentes em diferentes regiões? Sim. No Brasil, os raios do Rio Grande do Sul tendem a ser mais fortes e destrutivos do que os que caem em outras partes do país.

Publicado Originalmente: Jornal O Rio Branco
Reportagem: Wanglézio Braga. 

segunda-feira, 29 de junho de 2015

REGISTRO: O Meio/Fim Ambiente

Desconfie daquilo que pregam para você. A sustentabilidade é uma ilusão. O que estamos fazendo com o Meio Ambiente tem outro nome: ruína. 

EM BUSCA DE NOVOS FIÉIS ESTRANGEIROS, GRUPO REALIZA REUNIÕES EM ESPANHOL


O grupo ajuda diversas imigrantes por ensinar a bíblia e como viver no Acre (Foto Arquivo Pessoal)


Um grupo de voluntários das Testemunhas de Jeová, conhecidas mundialmente por sua obra de estudo e ensino da bíblia, tem ajudado os imigrantes que por aqui vivem. Há mais de 4 anos, eles dedicam parte dos seus afazeres a ensinar os estrangeiros principalmente, os que falam o espanhol, os assuntos bíblicos e também as relações sociais e culturais do nosso país.

De bairro em bairro de nossa capital, Rio Branco o grupo auxilia 43 pessoas vindas de diferentes lugares do globo terrestre como, por exemplo, Argentina, Bolívia, Colômbia, Chile, Espanha, Peru e Haiti.

Jailton Oliveira é um dos membros deste grupo. O voluntário tem se destacado em nossa sociedade por ajudar, ao lado de sua esposa, os imigrantes que escolheram as nossas terras para viver. Questionado sobre a satisfação de realizar esse trabalho totalmente voluntário, ele afirma que faz “por amor as pessoas”.

“A gente só consegue fazer o voluntariado por amor a Jeová [Deus] e pelas pessoas. Nesse trabalho, esses imigrantes enxergam uma atitude amorosa. Existe um preconceito muito grande quanto às pessoas vindas do Peru e Bolívia. Quando observam o interesse que temos nelas, principalmente o desejo de ajuda-las espiritualmente, elas ficam comovidas e felizes. É difícil morar num pais que não é a sua nacionalidade, mais elas sabem que por aqui vão se sentir acolhidas graças ao nosso trabalho”, comenta Oliveira.   

Prédio do Salão do Reino das Testemunhas de Jeová da Congregação de Língua Espanhola ( Foto Google Maps)


























O grupo é organizado e a cada dia atrai novos adeptos. Atualmente, cinco peruanos e um boliviano deixaram suas famílias nos seus respectivos países para viver no Acre e se juntar aos voluntários acreanos. Além do intercambio cultural, eles também servem como ‘tutores’ de línguas.

Carlos Quinto deixou a família no Peru para viver no Brasil. Ele diz que a obra possibilita ajudar as pessoas a encontrarem um “futuro melhor” e diz que se senti feliz por contribuir na obra.  “Ensinar as pessoas é uma satisfação muito grande. Principalmente por vê-las crescendo de acordo com os princípios da bíblia. Na congregação existem pessoas, famílias de peruanos que são regulares às reuniões. Eles atravessam a cidade para assisti-las. Isto nos enche de alegria”, diz.

O Salão do Reino da Congregação de Língua Espanhola fica localizado no Segundo Distrito, na Rua Salím Fahat nas proximidades do antigo barracão do bairro quinze. Os encontros são realizados toda quarta-feira (a partir das 19 horas) e domingo (a partir das 9 horas da manhã). A assistência em média é de 20 a 25 pessoas. A entrada dos encontros preparados na língua espanhola é gratuita assim como as aulas bíblicas.



quarta-feira, 6 de agosto de 2014

FOTO LEGENDA II- VIAGEM AO PERU - BANHO QUENTE/FRIO, FESTA E GUERRA DOS IDIOMAS

Foto Legenda  - Parte II

Banca que vendia, além de balas e biscoitos, humildade e simplicidade  


As ruas são limpas e feitas de pedras. Ao fundo parte
de uma das igrejas e Praça das Armas


Prédio de uma Universidade em Cuzco


Um comércio que funcionava na rua do nosso hotel. Lá dentro você encontra mais lojas, funciona como uma galeria.


Depois do almoço estava preparado para conhecer a Cidade dos Incas. 


Essas senhoras aparentemente simpáticas, pedem para tirar uma foto, porém, no final do registro
você é coagido a pagar uma "propina". 


Nessa casa de café tomei o melhor capuccino do mundo. 


As ruas são estreitas e movimentadas. Calçadas são pequenas. Tenha cautela ao trafegar por elas. 


Os americanos que fizemos os primeiros contatos. Eles queriam conhecer o Brasil logo após o passeio pelo Peru. 


Sanduíches vendidos na rodoviária Internacional de Cuzco. Eles são gigantes! 


Esse foi um dos melhores registros. O que comprova que o Jornal Impresso, apesar da internet, ainda é muito importante para cultura  e conhecimento de um povo. Confesso que fiquei emocionado com esta cena. 


Bem perto da Praça das Armas tem um obelisco que vale a pena conhecer.


Seguindo a tradição européia, as casas e prédios em Cuzco possuem sacadas.No final de tarde, elas ficam ocupadas por seus moradores e convidados. 


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

De jogador equatoriano famoso a microempresário no Brasil



Júlio César na estrada do Equador - Arquivo Pessoal

Nuvens carregadas ameaçavam chover a qualquer hora na tarde de hoje, mesmo assim, pego minha motoca em busca de mais um personagem. Desta vez, indicado por Chango o dono da (El pincel viajeiro). Pelas descrições do peruano, procuro um rapaz franzino, de traços indígenas e com sotaque Castelhano/português e proprietário de um lanche.

No bairro indicado, ninguém o conhece, até que estaciono próximo a um comércio e pergunto: - Conhece algum equatoriano?

Assustado, Júlio César Hernandes, de 26 anos, respondeu que é equatoriano, e retribuiu minha pergunta com um olhar de medo, curiosidade e esperança.

Tiro o capacete, cumprimento-o, me identifico e pergunto se poderíamos conversar. Levou-me até a sua casa que fica a poucos metros do rio Acre para mostrar como vive com sua namorada, o que faz no Brasil e relatar a sua interessante história de vida.

Chegando a sua residência humilde, cedida pelo sogro, me convidou para entrar e a chuva que ameaçava cair, desabou por longas horas. Mesmo assim, começamos a papear, e ele disse que enfrentou cinco dias dentro do ônibus para realizar um sonho em terras brasileiras, ou melhor, nos gramados dos times do país; ser jogado do flamengo e conhecido que nem o Zico.

Júlio é um famoso jogador profissional de futebol. Em Guayaquil, cidade habitada por 85% da população negra do Equador, jogou pelo Sociedad Desportivo Quito um dos times mais famosos, depois da seleção equatoriana. Teve ainda participação na seleção do Equador na categoria sub-20.

Antes de falar sobre sua carreira e dos primeiros dribles no futebol, ele me explicou que seu pai também era atleta e que vivia numa cidade litorânea, junto da   sua mãe e mais quatro irmãs.             

Com seu time aos 6 anos - Arquivo Pessoal 

Pergunto sobre sua infância, e apontando para a chuva, diz que o cheiro e o barulho das águas trazem boas recordações como pescar ao lado do pai na beira do mar, das excursões que fazia com os amigos em busca da onda perfeita e da água de Jamaica que pegava dos coqueiros da serra.

Relatando sobre a viagem para cá, contou que foram longas horas abordo do ônibus e que passou por cidades estranhas e deslumbrou belíssimos cenários da natureza, como por exemplo, o sobrevou de uma flamingo próximo a sua janela.

Mais calmo e empolgado, fala da viagem para Argentina. Ao completar 18 anos e se revelando um craque, embarcou e desvendou as terras de Cristina Kirchner em busca de oportunidades, mas, sem sucesso.

De volta ao Equador, trabalhou como barman em um hotel que pertencia a uma família Judia. Conheceu e fez amigos da Alemanha, Brasil, França e Peru.

Conta ele que “um homem me reconheceu na fila de emprego e elogiou meu trabalho como jogador de futebol. O judeu, dono do estabelecimento, falou que não iria me contratar por não ter perfil para a vaga. O homem que estava na fila comentou que eu era muito bom no futebol. O judeu que gosta de futebol e tem um time mais que (não sabe jogar), me convidou para jogar, no entanto, recusei porque anteriormente havia frustrado na Argentina e o judeu me ameaçou dizendo que só me aceitaria como barman se fosse jogar no seu time. Como era trabalho, e no Equador é difícil, resolvi aceitar prontamente o emprego”, disse contando ainda que “depois de contratado, todos os dias, os judeus falavam seus idiomas o que me ajudou a compreender alguns costumes e crenças”.

O desembarque em terras de Zico, Pelé e Ronaldo.

Depois de reacender a chama no time do judeu, decidiu o equatoriano que precisava ir ao Brasil e vestir a camisa de algum clube, tudo por influencias do seu pai e desejo de conhecer os seus ídolos brasileiros.

Na primeira oportunidade, Júlio com 23 anos, saiu do litoral na fronteira do Equador e Colômbia, atravessou o Peru e chegou ao Brasil pelo Acre no final de setembro de 2009. Foram longos dias dentro do ônibus (ele não tomou banho por cinco dias e só comeu pequenos lanches).

Enfrentou uma saga para receber a autorização e o visto no país. Ao chegar a em Xapuri, foi abordado pela Polícia Federal ordenou retornar à Epitaciolândia para registra-lo no sistema. Sem dinheiro, Hernanes deve que retornar a pé, mas por sorte, conseguiu uma carona até a fronteira.

Típica pochete equatoriana - Foto: Wanglézio Braga

Peço que detalhe como a cultura do seu país, rapidamente, corre até o seu quarto e trouxe consigo uma bolsa contendo algumas miniaturas típicas do Equador. Entre os objetos apresentado, uma pochete, que dentro dela havia um cordão preto e uma minúscula bolsa vermelha.

Quando peguei o objeto, disse ele que 'sentirá medo após contar a história do cordão vermelho'. Na hora pergunto porque e responde que, "é comum nas aldeias indígenas do Equador, extrair pedaços de ossos dos ancestrais para atrair sorte. Nesse que você segura, carrego pedaços do dedo do meu avô", explicou rindo da minha expressão facial.

Dentro da bolsa havia pedaços de ossos - Foto: Wanglézio Braga

Depois da explicação macabra, mudei de assunto e perguntei o que ele mais acha de diferente no Brasil. Ele respondeu que algumas expressões são bem parecidas do seu idioma e outras um tanto inusitadas.

“Certa vez, esperava o autobus (ônibus em português) juntamente com um colombiano, e duas mulheres estavam próximas a mim, de repente, o ônibus se aproximou e gritei:- Vamos colar a buceta! (Vamos pegar o ônibus!)”.

A reação das mulheres que estavam próximas, não foi a melhor. Uma delas deu tapa no  braço  de Júlio, que prontamente explicou que estava referindo-se ao ônibus. “Sem entender, todos rimos muito até perder o ônibus”, esclareceu o vocabulário aparentemente chulo.

“Costumamos comer garapa de cana que se chama “Panela” no Equador. Quando cheguei a Rio Branco fui ao supermercado para comprar, infelizmente não achei. Pedi ajuda de um funcionário que me levou a seção de panelas. Fiz cara feia, pedi uma caneta e um pedaço de papel para desenhar o que queria. Ele trouxe e para a minha sorte, um rapaz que estuda na Bolívia explicou que no Brasil chama-se “Rapadura ou Açúcar Mascavo em barra” e não panela”, contou gargalhando.

Audácia na cafeteria e sua amada namorada

Comentando sobre o assédio das fãs e dos amores conquistados, o equatoriano revela que conheceu inúmeras mulheres inclusive uma americana.

“Trabalhei em Guayaquil numa cafeteria e lá cuidava de por café na xícara e entregava aos garçons. Num dia de trabalho encontrei uma cliente americana que pediu café expresso e ficou sentada aguardando. Ela era muito bonita, por minutos fiquei contemplando aquela beleza norte-americana. Correndo o risco de perder o emprego, aprontei e fui pessoalmente servi-la. Minha supervisora ficou muito chateada por essa atitude, afinal, existem garçons para servir. Mesmo assim, falei para americana que meu expediente terminava ás 9h e desejava muito conhecê-la. Ela concordou e voltei ao meu setor onde recebi uma advertência”, relatou e continuou, “namorei com ela por alguns anos onde aprendi falar inglês. Planejamos morar nos Estados Unidos, mas isso não foi possível por causa da burocracia americana. Ela foi embora e nunca mais nos falamos”, lembrou.

“Quando desembarque em Rio Branco as pessoas diziam que encontraria mulheres bonitas. Atestei quando conheci a minha atual namorada. Ela trabalhava num lanche no centro. Quando ela passava pela Gameleira meu coração palpitava. Certa vez a encontrei numa festa. Ela estava toda linda de cabelo encaracolado, maquiada e usava um batom que chamava atenção. Apaixonei-me mais ainda nessa hora. De repente, passei a visitar sua casa uma vez por semana e conversei com o seu pai sobre o nosso namoro, estamos juntos alguns meses e espero continuar com ela, pois é batalhadora, inteligente e bonita”.

Enfrentou dificuldades e não esqueceu o futebol

No Desportivo Quito- Arquivo Pessoal

Sendo um jogador famoso em seu país, Julio César, não teve muita sorte nos gramados brasileiros, ou seja, ainda não alcançou a fama desejada. Os times de futebol acreanos não os melhores do cenário nacional, mais foi que conseguiu por enquanto.

Contou que seu primo mora em Minas Gerais, e por lá, tentou agendar uma reunião com caçadores de talentos dos times mineiros, mas espera até hoje um contato dos contratadores.

No currículo, jogou uma temporada pelo Vasco mais foi demitido por não ter conseguido regularizar os documentos junto á embaixada. A regularização é um dos principais problemas que ele enfrentou nos últimos anos (ele e muitos outros estrangeiros que chegam à fronteira do Acre).

Contou que sua família insistentemente – por telefone ou internet – por seu regresse ao Equador, ele responde que “voltarei quando realmente conseguir os meus objetivos”, afirmou com muita convicção.

Para sobreviver em solo acreano, Hernanes trabalhou como barman e técnico de refrigeração, no entanto, o preconceito por ser estrangeiro foi à causa das demissões. Por isso, resolveu criar o próprio negócio e há três meses tornou-se um microempresário.

“Já que precisava trabalhar em alguma coisa, resolvi montar o meu próprio negócio. Comprava os salgados e revendia nas ruas. Como não deu certo, aprendi a produzir os lanche e abrir uma lanchonete com ajuda do meu sogro. Junto com a minha namorada produzimos 60 salgados por dia. Graças a Deus os negócios estão indo muito bem”, contou.
Empolgado, me contou que também trabalha com peças de artesanato, no entanto, por respeito à natureza e a biodiversidade amazônica, não confecciona a arte.

Indago sobre sua carreira no futebol, dos sonhos e do futuro. Suspirando, responde que “vou conseguir! Passou alguns anos, estou me acostumando com a cidade e a cultura do povo brasileiro. Corro diariamente pelas ruas, treino futebol com um grupo de pessoas e procuro contatos.  Deus está preparando algo de bom na minha vida, eu creio!”.

Encerro a história de hoje torcendo pelo sucesso de Júlio e resumo tudo que contei em  duas citações. Uma do trecho da música do Skank que reza; “Quem não sonhou em ser um jogador de futebol? Que emocionante é uma partida de futebol”, e a outra de Clarice Lispector que diz; “Sonhe com aquilo que você quiser. Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que se quer”.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Chango veio pra cá, rodopiou no salão e mostrou que é bom conhecer a cultura alheia


Arquivo pessoal 

Dia desses, saindo de uma festa latina no Clube Tentamen, encontrei um homem de estilo diferente, trajando jaqueta preta, cabelo estilo Neymar, uma trança que caia de lado no pescoço, óculos escuros e de sandálias.  

Muito sorridente e simpático com a minha amiga, que estava magnífica naquela noite, identifica-se como “Chango” nascido em Lima, Capital do Peru.

Cumprimentamos-nos e começamos a papear sobre as danças latinas e das musicas que estava tocando. Prontamente, minha amiga, perguntou se ele dançava salsa, merengue e a cumbia (típicas em seu país). Sem pestanejar, ele responde com passos de cumbia e diz que dava aula de dança (pra não dizer show).

Como de sempre, Ângela e eu, caímos na gargalhada e não botamos muita fé no gingado do peruano esquisito.  

Saímos para comprar chiclete de caixinha na Rua 24 de janeiro e quando voltamos, encontramos o Sr. Chango rodopiando no salão com uma morena que dançavam freneticamente um lambadão. Nessa hora, Angel e eu, ficamos impressionados com aquele rodopiado e gingado que ambos faziam.

Confesso que até tentamos pegar alguns passos, mais não dava, eram rápidos demais e tínhamos outra festa para irmos (não poderíamos suar).

Arquivo pessoal


Dias depois, novamente, Ângela eu, fomos dar um bordejo no Novo Mercado Velho onde acontecia uma feira artesanal. De repente, avistamos uma roda e no meio, um artista de rua pintando belíssimos quadros. Quem era? “Chango” o dançarino. Esperamos acabar a apresentação, fomos correndo cumprimenta-lo.

Com jeito simpático e “Hermano” de tratar os outros, foi logo dizendo que tinha uma cabeça boa e que se lembrava dos nossos rostos.

Novamente papeamos por algumas horas, trocamos contatos, e marcamos para nos ensinar uns passos na casa da Ana. Mesmo assim, combinamos para o dia seguinte tomar uma cerveja no mercadão e almoçar um tambaqui frito.

Chegando lá, encontro o peruano vestindo uma camisa laranja com desenhos indígenas dizendo que havia confeccionado a camisa. Daí, pergunto sobre sua profissão. Ele relatou que era professor de dança, guia turístico, artesão, pintor de quadros feito com tinta óleo/spray, empresário, músico e que falava francês, português, inglês e italiano.

Explicou que seu nome verdadeiro era Piero Aranibar B., mas era conhecido por “Chango” que significa “macaco forte”, tendo em vista que desde pequeno malhava e quando passeava por seu bairro todos gritavam “lá vai o Chango!”.

Aos 36 anos, Piero Aranibar é pai de três meninas sendo duas peruanas e uma dominicana. No Peru, casou-se bem cedo e depois terminou o relacionamento onde viajou para outros países da America do Sul e ilhas do Caribe em busca de conhecimento, aventura e novos amores.

Ele conta que desde pequeno se considerava um artista e que sua cidade, Lima, não proporcionava cultura e arte suficiente. Por meio das viagens que fazia se deleitava em conhecimento, aventura e quebrava paradigmas impostos por sua mãe.

“De trem, avião, barco, carro, moto e até de pé”, explica ele, “conheci Argentina, Chile, Bolívia, Equador, Colômbia, República Dominicana, San Martin, Haiti e agora, o grandioso Brasil”.

Por onde passou, aprendeu! Aprendeu que é preciso respeitar a cultura de cada povo e que é fundamental ser assertivo (ter inúmeras qualidades) para ser mochileiro, e no final, sobreviver.
Chango - hora dava atenção ao prato de galinha caipira, hora conversava comigo - contou das inúmeras histórias que presenciou em suas andanças pelo mundo a fora e que me fez gargalhar e imaginar tais situações.

O beijo santo, expulso de um ritual e expressões nada convencionais


Arquivo Pessoal

Chango relatou que em sua viagem a Porto Príncipe, capital do Haiti, esperava na rodoviária um táxi para leva-lo até o hotel. De repente, encontrou um homem negro, alto, forte em cima de uma moto que estalou um beijo em sua direção e com o pescoço fez um convite para subir no veiculo. Prontamente ele recusou e pensou que o homem estava com má intenção. O gesto foi seguido por três outros haitianos que aproximavam de suas malas empoeiradas.

“Fui numa loja que tinha uma mulher linda, alta, de cabelos longos e pelo visto dona do lugar. Antes de perguntar como conseguiria um táxi, ela fez o mesmo gesto que os homens da moto. Pense! puxa to palpitando o coração dessa gente, sou bonito mesmo!... Até que descobri que eram apenas cumprimentos e espécie de indagações como; O que você quer? O que procura? Quer táxi?”, explicou e continuou, “aí entendi que aquilo era um cumprimento e não uma paquera ou cantada”.

“Na fronteira do Haiti, presenciou algumas pessoas vestidas de branco que nem os praticantes do candomblé, que dançavam, cantavam e bebiam. Um deles me ofereceu um copo de cachaça, tomei e segui o grupo que dançava para comemorar alguma coisa boa. Mais na frente, entramos numa caverna onde ouvi uma voz trêmula e um senhor sentado e em sua volta havia crânios e velas. Ele era alto e tinha olhos brancos (parecia cego), e as pessoas faziam filas para entregar alimentos, cachaça e dinheiro. Enquanto chegava a minha vez, sem presente algum, notei que em sua barba grande, havia muitas abelhas que faziam um barulho estarrecedor. Quando chegou a hora de entregar o que não tinha, passei minha mão próxima à barba dele (que tinha mel) para espantar as abelhas. Aquilo foi uma afronta. Todo mundo correu com medo das abelhas e alguns homens corriam atrás de mim. Dois deles me alcançou e fui jogado pra fora da caverna. Depois disso, todos os lugares que visitei as pessoas me apontavam como se tivesse acusando de alguma coisa. Foi aqui que entendi que tinha acabado com um ritual deles e que o homem era um guru”, relatou.

Por minutos gargalhamos e ele continuou contando...

 “Sabe das aquelas moedas pequenas que dão de troco? Pois bem, chego à República Dominicana e quando desço do carro uma família (marido, esposa e um bebê de colo) me aguardavam. Na minha mão direita uma mala, na esquerda outra e nas mãos, muitas moedas. Daí, muito hospitaleiros, o marido pegou uma mala, a esposa mesmo com o bebê outra e minhas mãos cheias de moeda. Pedi pra levar uma mala, e eles recusaram. Novamente pedi para segurar o bebê e a mulher entregou para mim. Aproximei-me do bolso dela e disse que poderia ficar com o meu “Rípio” que na minha cidade significa piçarra (pelo tamanho e quantidade das moedas). Revoltada, a mulher começou a me tratar estupidamente, o marido soltou a minha mala e arrancaram o bebê dos meus braços. Procurei um tradutor e descobrir que, tinha oferecido no idioma deles a péle do meu pênis. Só aí descobri que as expressões eram convencionais e ainda saí do vilarejo como tarado”.

Novamente gargalhei e as pessoas próximas da nossa mesa ficaram olhando... E ele voltou a contar que...

“Sempre gostei de música, de tocar violão e ouvir a “Banda Toto”. Nas viagens pelos países, procuro conhecer as lojas que vendem discos. Encontrei uma que tinha como atendente uma moça alta com sorriso encantador. Pergunte se tinha Toto, ela fechou a cara e respondeu que tinha mais que não era mim. Sem entender apontei para o disco na prateleira e mais calma explicou que Toto em seu idioma significava vagina. Mais uma vez fiquei morrendo de vergonha”, disse.

"Insatisfeito, continuarei viajando em busca da cultura perfeita"

Chango disse que veio para o Brasil com um único objetivo; conhecer a cultura do país. Aqui conheceu uma Italiana que se apaixonou e casou. Não teve filhos com ela e confessou que o casamento não vai muito bem.

Viajou para a Bahia, Rio Grande do Sul, São Paulo, mas, o Rio de Janeiro foi o lugar escolhido para morar e construir o próprio negócio. Na cidade carioca, ele montou a El Pincel Viajeiro uma empresa especializada em pinturas corporais, em tecidos e quadros.


Pintura feita  com Spray - Arquivo Pessoal 

Pintura feita com Tinta  óleo - Arquivo pessoal 

[Veja um pouco dos trabalhos de Chango em http://pieroaranibar.artelista.com/ 
ou elpincelviajeiro@gmail.com

Ainda sedento pela cultura alheia, o peruano, viajou para o Acre onde vive há três meses e ficará até o próximo 01 de janeiro de 2013. Ele pretende retornar ao Rio de Janeiro para tocar sua empresa, e é claro, viajar por outros países do continente.

Família, saudades e futuro.

Nosso papo foi tão bom que nem percebi que havia devorado a galinha caipira. Mesmo ciente de que não encontrou a cultura que tanto almeja, pergunto como é viver longe da família.

Chango contou que seu pai e o irmão mais velho vivem nos Estados Unidos, já o mais novo, é empresário na Ilha de San Martin e sua mãe continua morando no Peru. Pergunto sobre suas filhas, lembrou-se do casamento com uma hatiana a qual ficou grávida e ambos foram morar na República Dominicana. Essa filha que ele tenta busca-la para morar no Peru ou no Brasil.

“Sinto saudade de todas, mais, a dominicana quero busca-la a qualquer custo para oferecer uma educação de qualidade e conforto”, disse lembrando-se das outras duas, “as outras peruaninhas também amo muito, de seis em seis meses vou a Lima para vê-las e matar a saudade sem contar nas conversas pelo Skype”.

Finalizando a sessão de interrogatório, pergunto sobre o seu futuro. “Meu futuro a Deus pertence. Quero rodar o mundo a fora, ir aos Estados Unidos e rever meu pai que não vejo há 15 anos. Antes de regressar, vou conhecer todas as regiões do Brasil e partirei em busca de novas realidades”, concluiu a entrevista e o almoço.

Durante horas que conversei com Chango notei que é preciso respeitar as pessoas (vestimenta, raça e ideais) e acima de tudo, é fundamental viajar mais, vivenciar coisas boas e lutar pelos sonhos. Com isso em mente, espero que 2013 seja o ano de viagens e do conhecimento, pois é ele que move o planeta. 

Na próxima postagem, vamos conhecer um Equatoriano que casou com um acreana e que não quer sair daqui jamais. Não perca!