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quinta-feira, 2 de julho de 2015

VIAGEM AO PERU - LIMA, BANHO TURCO E COMIDA BRASILEIRA

Pessoal, como havia prometido irei terminar de relatar a viagem para o Peru. Depois de alguns meses, a preguiça foi embora e resolvi continuar os relatos. Onde parei mesmo? Ah sim, lembrei! Às vezes a memória da gente falha mesmo (...)

Acessa as primeiras postagens sobre a viagem e as fotos legendas. Basta clicar no link:





O objetivo principal dessa viagem aos Andes, como havia dito, era participar do casamento e também fazer um intercâmbio cultural. Só que a cerimônia foi realizada na capital – Lima - aproximadamente 15 horas de viagem de autobus (1h15mim de avião). Então tivemos que apressar nossa estadia em Cuzco embarcar o mais rápido para Lima, afinal, o dia marcado para o “sim” dos noivos estava se aproximando.


SUBINDO, SUBINDO, DESCENDO, DESCENDO

Emerson posando no box da Flores, empresa de ônibus 



Saímos por volta das 23 horas. Cuzco estava terminantemente gelada. Tinha sido assim todas as noites. Barbosa e eu fomos pra famosa Rodoviária Internacional. A empresa que havíamos comprado às passagens, Flores, atrasou o embarque. Já visivelmente cansados e sonolentos, resolvemos passar a hora conversando com alguns turistas. Gente que nem imaginávamos de suas respectivas existências. A recíproca era verdadeira. Quando dizíamos que éramos do Brasil, o pessoal já abria um sorriso. Isto facilitou o contato.

Do vai e vem, notamos que apesar do barulho, dos gritos intermináveis das vendedoras de passagens que esgoelavam (Arequipa! Arequipa! Arequipa! Puno! Puno! Nazca! Nazca!) com um tom mais agudo que possa existir (Tom que doía nos tímpanos, nos cumes dos montes, na cachola), existiam pessoas que dormiam tranquilamente agarradas com suas malas. Outras até escreviam relatos e algumas fingiam que estavam lendo, mais que nada verdade estava de olho no fluxo.

Lá pelas tantas, uma comissária de terra gritou: “Lima! Lima! Lima! Miraflores salindo”. Nós corremos! Pegamos as nossas coisas e entramos no ônibus. De longe o veículo era novinho e bonito. Três andares! Uma maravilha de ônibus. Poltronas confortáveis e em nossa volta pessoas não tão simpáticas assim. Lembro-me de uma senhora que olhava várias vezes para mim. Sem entender eu respondia com um sorriso. Ela desviava os olhos. Volta e meia pegava ela olhando para mim. Seria amor? Admiração? Deixa pra lá.

Um filme de terror e outro da anaconda nos fizeram companhia 

O trajeto como havia esperado era subir e subir. Assim foi por longas horas. Sabe aquela sensação de subir uma escada estilo caracol? Era assim que nos sentíamos. Subia, subia, subia, subia e parecia que não tinha mais fim. Depois o ouvido começava a zunir. Adivinha quem estava dando as boas vindas? A bendita altitude. Emerson reclamou de dores. Eu não tive problemas, estava concentrado com meu MP3 que tocava freneticamente 14 bis, Caetano Veloso, Maná e também Flavio Venturini. Era o melhor remédio contra o ‘soroche’.

De repente tudo mudou. Começamos a descer, descer, descer, descer. Mais não era uma decida normal, como a gente desce a ladeira da Maternidade. Era com curvas, algo descomunalmente rápido. A barriga só sentia a pressão. Foi assim por muitos tempos. De repente, a senhora que tanto me olhava começou a passar mal. Usou o saquinho. O filho dela também. Ela tira de dentro da bolsa um maço de folhas de coca e oferece. Por educação, aceitei mais não masquei.

Tivemos uma parada. O motorista gritou que em “média hora” voltaríamos para o ônibus. A galera correu para o restaurante do posto de gasolina. Foi nesse lugar que experimentei uma comida deliciosa “aji de pollo”. Uma papinha feita de frango com um gosto de caldo knnor e arroz branco. Que gostosura! Emerson foi para o tradicional Lomo Saltado. Para ficar ainda melhor tomamos uma gelada gaseosa, para não dizer Inca Cola. Depois de engolirmos, o ônibus já estava nos esperando.

O sol já nasce bem brilha nos céus do Peru
O dia estava amanhecendo a lua gigante ainda estava brilhando intensamente no céu. Já era possível depois de tanta subida e descida andar em linha reta e enxergar a vida no campo. Quando a gente trafega pela carreteira peruana é comum encontrar camponeses movimentando suas plantações. Os animais também são comuns nas estradas. A cada ponto da estrada era possível ver a variedade de plantações. Algumas até coloridas. Normalmente as casas feitas de barro davam um charme ou um tom bucólico típico do nordeste brasileiro. Sabe?

À medida que o dia clareava tínhamos a oportunidade de conhecer um pouco mais desse rico país. Lembro que em certo momento via uma linda cachoeira fazendo seu trajeto entre os paredões de pedras e formando um lago de coloração verde. A vontade de descer do ônibus para ir tomar banho era muito grande. Na realidade era maravilhosamente clara água que dava o charme aquele lugar. Com certeza era muito gelada, durante bom tempo não via ninguém tomando banho por lá. Só pescando. Mais foi uma das imagens que não me sai da memória.
A imagem mudava a medida que fazíamos uma curva


BEM VINDOS À LIMA!

A cada parada pelas cidades, pensávamos que Lima nunca ia chegar, mais fácil chegar à tangerina, limão, laranja do que na bendita Lima. Talvez a ansiedade adicionada no liquidificador com um pouco do tédio, acrescentada com o mau cheiro que estava dentro daquele ônibus passava essa impressão. Foi muita concentração porque o aji que havia comido na madrugada queria sair pela boca e não saiu. O cheiro insuportável do banheiro e que se misturava com os saquinhos de vômito jogados nojentamente no chão pelos passageiros exalava um odor do apocalipse.

Resumindo o contexto: Se for a Lima de ônibus procure outras empresas. A flores foi irresponsável por não fazer a baldeação no ônibus. Tivemos que aguentar calados aquela falta de respeito com o cliente. Mais graças a Deus chegamos a Lima ainda pela tarde. Estava com um tempo muito nublado, escuro. Já se passava das 13 horas. De longe avistávamos os bancos de areia formados por dragas e que seriam transportadas em seguida. O fluxo de carro começava a aumentar. Grandes lojas, supermercados e prédios começavam a surgir.

Numa parada para o desayuno (Café da Manhã) próximo a Lima
Êba! Chegamos a capital peruana. Do ponto que estávamos trafegando ainda era o início da cidade. Rodamos muito ainda para chegar até o terminal da Flores. Por falar nisso, em Lima não existe um terminal rodoviário público como uma rodoviária. Cada empresa tem seu próprio terminal. Ou seja, antes de chegar a Lima é importante saber a localização do seu desembarque. Às vezes existem vários terminais dessas empresas espalhadas pelas zonas aí complica sua vida.

Pegamos um taxi e fomos para o hotel. Chegamos bem. Tomamos um banho bem quente, relaxamos e fomos comer. Na Avenida do nosso hotel (Avenida Internacional), existem vários restaurantes, comércios, casas de banhos turcos e massagem e ainda de quebra um metrô barulhento. Depois de passar o pano pela avenida, ligamos para a nossa amiga e avisamos que chegamos bem. Fomos dormir e preparar nossas coisas para o dia seguinte.

FAROFA DE OVO, BANHO TURCO E SHOPPING

Num pedágio que funciona dentro de Lima 
A cidade de Lima é muito parecida com São Paulo (Brasil). Muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, muita informação, é muito grande e também agitada. Tomamos café e esperamos a Ângela nos buscar no hotel. Foi muito bom revê-la. Deu para perceber que estava muito feliz por nosso reencontro. Levou-nos para a sua casa e adivinhem o que ela preparou? Arroz, feijão e farofa de ovos bem ao estilo brasileiro. Não pensem que esse seria o cardápio original. Ela já havia planejado um banquete, mas por atender um desejo nosso, ela quebrou “essa castanha”. Foi o melhor arroz com feijão e farofa de ovo com farinha de Cruzeiro do Sul que comi na minha vida. Uma Inca Cola foi adicionada a mesa para não perder a tradição.




Na cozinha, ela deu um show. Cardápio: Arroz, Feijão e Farofa de Ovo
A tarde foi tão gostosa que quase não tivemos tempo de rir. Era só gargalhando.
Do outro lado da rua uma bandeira do Brasil chamava atenção


Uma sopa de carne, macarrão e ovo. De entrada torradas e manteiga

Foi ótimo o reencontro. Conversamos sobre nossas profissões, sobre nossos amigos, sobre os bons momentos na redação do Jornal O Rio Branco. Além de fazer comida, imaginem só o que faziam os três jornalistas juntos: falar da vida dos outros. Depois fomos conhecer o restante da casa. A melhor parte foi a sacada do prédio. Ficamos lá por horas, bebendo um bom vinho, comendo besteira e rindo muito. Sem dúvidas fora uma oportunidade de matar a saudade do nosso país, afinal, o espanhol ficou de escanteio durante essas horas.
A noite estava friorenta e a neblina tomou conta

A noite chegou e fomos passear pela Av. Internacional. Por todos os lados que olhávamos existiam a tal “Chifa  Wok” que são restaurantes asiáticos. Parecia até que naquele lugar habitavam somente chineses, indianos, coreanos, tailandeses etc. Na realidade a gastronomia peruana é bem diversa e consegue reunir as iguarias de todos os países do mundo, numa grande mesa gastronômica.

À medida que andávamos pela Internacional encontramos também os banhos turcos. São casas de massagem que oferecem atividades relaxantes, com piscinas de água quente e saunas. Resolvemos entrar para conferir o que rola por lá. Confesso que fiquei surpreso. Muita gente falava mal desses ambientes principalmente no quesito promiscuidade mais não vi nada demais. As pessoas visitavam esses espaços para relaxar e fazer a limpeza corporal, ou até mesmo acessar a internet.

Foi possível encontrar várias qualidades de sabonetes, shampoos, pentes e barbeadores todos de grátis espalhados pelos balcões. Numa ala, você poderia pegar a sauna seca. No outro lado, sauna a vapor com cheiro de citronela exalando pelo ambiente. Mais a adiante, uma Lan House e um bar funcionava normalmente dentro do estabelecimento. Todo mundo de toalha ou roupão. Não era permitido ficar pelado por lá. Aproveitamos mais a piscina e a sauna. Realmente foi relaxante. Deu para curtir.

Uma das torres do shopping

o que mais chamou atenção foram as poucas coberturas do prédio
Fomos em seguida para o hotel se arrumar e aguardar a Ângela e seu noivo para irmos ao restaurante e logo depois ao Shopping Jockey Plaza. Um moderno e novo shopping que intriga os visitantes pelo tamanho e ainda por sua arquitetura. Quase não existe teto. Ele é mais ao ar livre do que coberto. Um encanto de lugar. Várias marcas de roupas internacionais, parques e restaurantes. Foi bom conhecê-lo.

No outro dia era a hora do “sim” ou “si”. O casamento do ano estava realmente se aproximando. Como convidado especial precisava descansar e preparar a roupa. Então seguimos para o hotel. Claro que não poderia resumir o casamento deles assim nessa postagem. Vou elaborar um bem especial. Porém, fique com algumas imagens que separei do nosso trajeto Cuzco/Lima.










segunda-feira, 29 de junho de 2015

EM BUSCA DE NOVOS FIÉIS ESTRANGEIROS, GRUPO REALIZA REUNIÕES EM ESPANHOL


O grupo ajuda diversas imigrantes por ensinar a bíblia e como viver no Acre (Foto Arquivo Pessoal)


Um grupo de voluntários das Testemunhas de Jeová, conhecidas mundialmente por sua obra de estudo e ensino da bíblia, tem ajudado os imigrantes que por aqui vivem. Há mais de 4 anos, eles dedicam parte dos seus afazeres a ensinar os estrangeiros principalmente, os que falam o espanhol, os assuntos bíblicos e também as relações sociais e culturais do nosso país.

De bairro em bairro de nossa capital, Rio Branco o grupo auxilia 43 pessoas vindas de diferentes lugares do globo terrestre como, por exemplo, Argentina, Bolívia, Colômbia, Chile, Espanha, Peru e Haiti.

Jailton Oliveira é um dos membros deste grupo. O voluntário tem se destacado em nossa sociedade por ajudar, ao lado de sua esposa, os imigrantes que escolheram as nossas terras para viver. Questionado sobre a satisfação de realizar esse trabalho totalmente voluntário, ele afirma que faz “por amor as pessoas”.

“A gente só consegue fazer o voluntariado por amor a Jeová [Deus] e pelas pessoas. Nesse trabalho, esses imigrantes enxergam uma atitude amorosa. Existe um preconceito muito grande quanto às pessoas vindas do Peru e Bolívia. Quando observam o interesse que temos nelas, principalmente o desejo de ajuda-las espiritualmente, elas ficam comovidas e felizes. É difícil morar num pais que não é a sua nacionalidade, mais elas sabem que por aqui vão se sentir acolhidas graças ao nosso trabalho”, comenta Oliveira.   

Prédio do Salão do Reino das Testemunhas de Jeová da Congregação de Língua Espanhola ( Foto Google Maps)


























O grupo é organizado e a cada dia atrai novos adeptos. Atualmente, cinco peruanos e um boliviano deixaram suas famílias nos seus respectivos países para viver no Acre e se juntar aos voluntários acreanos. Além do intercambio cultural, eles também servem como ‘tutores’ de línguas.

Carlos Quinto deixou a família no Peru para viver no Brasil. Ele diz que a obra possibilita ajudar as pessoas a encontrarem um “futuro melhor” e diz que se senti feliz por contribuir na obra.  “Ensinar as pessoas é uma satisfação muito grande. Principalmente por vê-las crescendo de acordo com os princípios da bíblia. Na congregação existem pessoas, famílias de peruanos que são regulares às reuniões. Eles atravessam a cidade para assisti-las. Isto nos enche de alegria”, diz.

O Salão do Reino da Congregação de Língua Espanhola fica localizado no Segundo Distrito, na Rua Salím Fahat nas proximidades do antigo barracão do bairro quinze. Os encontros são realizados toda quarta-feira (a partir das 19 horas) e domingo (a partir das 9 horas da manhã). A assistência em média é de 20 a 25 pessoas. A entrada dos encontros preparados na língua espanhola é gratuita assim como as aulas bíblicas.



DIA DO IMIGRANTE: Chile e Peru unidos no Brasil pelo amor


Além dos ‘imigrantes’ existem também os ‘emigrantes’. Você saberia distingui-los? 

O clima tropical do Brasil e o comportamento alegre do seu povo são aspectos primordiais que contribuíram para os imigrantes buscarem uma nova vida por aqui. No Acre, isso não seria diferente, pois afinal, por todos os lados os imigrantes estão espalhados. Graças às oportunidades, eles também foram responsáveis pela construção e povoamento do nosso Estado.

No dicionário em português existe um significado resumido para a palavra ‘imigrante’. Segundo o dicionário Aurélio, ‘Imigrante’ é aquele que imigra, ou seja, aquele que entra em um país estrangeiro, com o objetivo de residir ou trabalhar. Mas, além dos ‘imigrantes’ existem também os ‘emigrantes’. Você saberia distingui-los?

O termo imigração se aplica só a pessoas que pretendem fixar residência permanente no país adotivo. Já a “Emigração” é o êxodo de indivíduos ou grupos, que consiste no abandono voluntário do seu país de origem, por motivos políticos, econômicos, religiosos etc.

No Brasil, para lembrar-se dos estrangeiros, sempre no dia 25 de junho é comemorado o “Dia do Imigrante”. Pensando nessa data, vamos prestar uma homenagem a essas pessoas relatando a história de um casal de imigrantes que vieram de outros países da América Latina e também por mostrar o trabalho voluntário que é desenvolvido por um grupo religioso na nossa capital, Rio Branco.

Não existe um número real de imigrantes que vivem no Acre, mas nos últimos anos, é visível que o Estado virou rota internacional de imigração. Sendo ilegais ou não, essas pessoas vêm dos mais diferentes continentes dispostos a mudarem de vida. A nossa história comprova tal afirmativa.

No caso dos haitianos, mais de 130 mil cruzaram a fronteira do Peru e Brasil por meio do Acre em busca de uma nova vida após o terremoto ocorrido em 2010, que destruiu a infraestrutura do país e provocou a onda de emigração.

O processo de colonização acreana teve a contribuição significativa de árabes, libaneses, alemães, bolivianos, peruanos, japoneses e também africanos que foram atraídos graças ao segmento promissor da venda da borracha quando estado exportou para a Europa durante a 2ª Guerra Mundial.



O arquiteto, Jaime Erazo nasceu no Chile e a professora, Esther Olivares veio do Peru

Chile + Peru = Brasil  

O arquiteto, Jaime Erazo nasceu no Chile e a professora, Esther Olivares veio do Peru. Atraídos pelo clima tropical e aparente tranquilidade de Rio Branco, o casal escolheu o Acre para viver. Ela mora aqui há mais de 20 anos. Ele chegou há pouco mais de dois meses. Juntos trabalham num negócio próprio voltado à venda de capas de proteção para motociclistas.

Jaime contou que ficou encantado como Estado, principalmente no quesito limpeza e acolhida das pessoas. “Venho de um lugar muito frio no Chile. Tanto frio no clima como o relacionamento com as pessoas. No Chile, as pessoas são mais fechadas, diferentes dos brasileiros que são mais calorosos. Além disso, essa cidade é muito bonita e foi por isso que resolvi vir para cá”, relata acrescentando que viver no Acre se tornou mais econômico em comparação com outros Estados da federação brasileira.

O arquiteto comenta que nem tudo é tão fácil para os estrangeiros. A questão trabalhista e o idioma são algumas barreiras que eles enfrentam. “Vocês brasileiros falam muito mais rápido. É difícil para nós compreendermos. É preciso muita atenção. Existe também a questão de emprego. Para um profissional da arquitetura que veio de outro país é muito mais difícil encontrar um trabalho, mas isso não nos desanima”, comenta.   

Esther vive a mais tempo no Acre. Ela ressalta que o clima úmido tropical foi o fator predominante para escolher o nosso estado para residir. “Em certas regiões do Peru o clima é muito frio. Eu não gosto do frio. No Chile o clima ainda é mais gelado. Desta forma eu procurei saber um pouco da cultura do Acre e também do seu clima. Essa escolha foi 20 anos atrás e hoje não penso em mudar daqui para outro lugar. A cidade é tranquila e boa de se viver”, ressalta.

A professora, que nas horas vagas também presta serviços de costura, avalia como positiva a sua experiência de vida no Acre. Ela aproveita para fazer um elogio à gastronomia brasileira. “A alimentação do Brasil é muito boa. Existe de tudo. Só acho que os brasileiros comem pouca salada e deveriam explorar ainda mais as frutas e verduras assim como fazemos no Peru”, elogia e acrescenta que para matar a saudade de sua terra natal, sempre prepara comidas típicas do Peru. 

Mas não é somente o clima agradável, a gastronomia que tem mantido a afinidade entre os dois. O futebol também faz parte da vida do casal. Aliás, isso quando não estão em campo as seleções do Peru e Chile. “Aí a história muda. Eu torço pelo Peru e ele pelo Chile. Nos próximos jogos da Copa América tenho certeza que o clima não será dos melhores entre nós. Mas o peru vai ganhar e tudo ficará bem”, brinca Esther que é retrucada pelo companheiro “O Chile é bom e também vai ganhar essa copa”.  

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

FOTO LEGENDA II- VIAGEM AO PERU - BANHO QUENTE/FRIO, FESTA E GUERRA DOS IDIOMAS

Foto Legenda  - Parte II

Banca que vendia, além de balas e biscoitos, humildade e simplicidade  


As ruas são limpas e feitas de pedras. Ao fundo parte
de uma das igrejas e Praça das Armas


Prédio de uma Universidade em Cuzco


Um comércio que funcionava na rua do nosso hotel. Lá dentro você encontra mais lojas, funciona como uma galeria.


Depois do almoço estava preparado para conhecer a Cidade dos Incas. 


Essas senhoras aparentemente simpáticas, pedem para tirar uma foto, porém, no final do registro
você é coagido a pagar uma "propina". 


Nessa casa de café tomei o melhor capuccino do mundo. 


As ruas são estreitas e movimentadas. Calçadas são pequenas. Tenha cautela ao trafegar por elas. 


Os americanos que fizemos os primeiros contatos. Eles queriam conhecer o Brasil logo após o passeio pelo Peru. 


Sanduíches vendidos na rodoviária Internacional de Cuzco. Eles são gigantes! 


Esse foi um dos melhores registros. O que comprova que o Jornal Impresso, apesar da internet, ainda é muito importante para cultura  e conhecimento de um povo. Confesso que fiquei emocionado com esta cena. 


Bem perto da Praça das Armas tem um obelisco que vale a pena conhecer.


Seguindo a tradição européia, as casas e prédios em Cuzco possuem sacadas.No final de tarde, elas ficam ocupadas por seus moradores e convidados. 


VIAGEM AO PERU – BANHO QUENTE/FRIO, FESTA E GUERRA DOS IDIOMAS

PRIMEIRO DIA EM CUZCO 

A cidade é bem bonita. Flores e plantas dão um charme especial

 A viagem ao Peru, sem dúvida, foi marcada pelo frio excessivo. Algo que nunca havia experimentado na vida. Não era uma simples friagem como estava acostumado no Acre. Era frio mesmo daqueles de doer no couro, daquele que castiga e força seus dentes baterem um no outro sem controle. Depois de provar do Chá de Coca na cozinha, pedi para a dona do Hotel me levar ao quarto, pois além de cansado eu só queria tomar um banho e cair na cama e acordar no outro dia, outro ano, outra vida.

O quarto era pequeno, aconchegante com duas camas gigantescas e um banheiro com aquecedor. A hora de ir ao banheiro era sofrida, tendo em vista que tudo era muito gelado. Até sentar na privada era algo que precisava de muita coragem. Ligar o chuveiro então era atitude de super-heróis, afinal, se você ligasse na torneira gelada sairia um picolé, ou se ligasse na quente sairia escaldado.  

Corredor do Hotel 
Ao fundo uma das igrejas
de Cuzco erguida pelos
Europeus. 
Essa indecisão – água quente/fria - me custou várias queimaduras nas costas e nos braços. Uma vez, ao tomar banho, a água gelada havia acabado e de repente recebi de uma vez um jato de água quente, quase fervendo. Aquilo foi desesperador. Mais consegui sair dessa pulando fora da banheira.

Depois do banho, troquei de roupa e cai na cama. Minha cabeça estava rodando, meus passos eram pesados e tudo era muito estranho. Tomei o remédio da altitude e fui dormir. Enquanto isso, o Emerson bebia todas as garrafas de chá de coca do mundo e fazia novos amigos num frio de 8°C.

Por falar em novos amigos, talvez você esteja se perguntando o que aconteceu com o paulista, Gregory, que havíamos conhecido na Rodoviária de Rio Branco. Nosso último contato foi na Rodoviária, mas, ele deixou seu e-mail e marcamos de nos encontrar de noite na praça. Ele já tinha reserva em um hotel e não queria nos acompanhar.

HORA DE ACORDAR

Lá pelas tantas da tarde acordei. Olhei para o lado e o Barbosa também não tinha aguentado e havia adormecido. Acordei varado de fome, porém, estava mais habituado com o clima e aquela sensação ruim tinha passado. Daí, quando alguém me pergunta sobre o que fazer quando chegar a Cuzco, respondo que é preciso dormir, dormir e dormir.

Prato: Frango, arroz, batata e salada com abacate
Não demorou muito e ele também acordou. Tomou banho e fomos nos arrumar pra passear pela cidade dos Incas. Pra nossa sorte o hotel que nos hospedamos ficava muito próximo da Praça Principal um dos pontos turísticos de lá. Fomos andando e no trajeto, encontramos gente de todo o mundo; da Ásia, Europa, África, America, e até de marte.

Além da diversidade de pessoas, encontramos diversidades de restaurantes, hotéis, lojas comerciais e as igrejas. Fiquei impressionado foi com o trânsito. As ruas são muito, muito estreitas e feitas de pedras. Logo me veio à mente as cenas da novela “Xica da Silva”. A civilização espanhola havia passado por lá e deixou sua marca. As sacadas das casas e prédios muito bem desenhadas e modelas.

Meu primeiro contato, de fato, com a culinária peruana foi num restaurante aconchegante que nos indicaram quando caminhávamos pelas ruas. Não recordo o nome, mas, lembro que a comida era muito barata e deliciosa. Barbosa e eu não perdemos tempo e pedimos a cerveja Cusqueña.

Logo após o almoço/lanche resolvemos entrar numa casa de café. Pedimos capuccino para espantar um pouco o frio. Cada coisa gostosa; Bolos, tortas, pães e chás. Sentimos-nos fim de tarde da Europa! Batemos um papo e fomos em direção à praça.

COM OS MEUS “BOTÕES”

O a cidade lembra um "umbigo"
Enquanto andávamos pelas ruas estreitas, fica refletindo o porquê os índios apelidaram a cidade de “umbigo”. Com o passar do tempo tirei duas conclusão. Talvez seja o formato geográfico da cidade que parecia um buraco ou cova daquelas que as cozinheiras criam com ingredientes na hora de fazer o bolo. Ou ainda, pela variedade de raças que desfilam pela cidade.


As ruas de Cuzco são estreitas e movimentadas
A Praça é linda. Tem Chafariz. Tem artistas vendendo seus quadros. Tem crianças correndo dos pombos. Tem casal de namorados. Tem declaração de amor com direito a flores e até documentário de rede de tevê. Enquanto registrávamos algumas cenas e tentávamos nos acostumar com o frio, um guia turístico nos disse que do outro lado da praça é ponto de encontro dos turistas e que lá poderíamos dançar, beber e jantar.
Não ficamos muito tempo na praça. Resolvemos ir para o hotel descansar um pouco e nos arrumar para sair mais tarde...

FIESTA, FIESTA, FIESTA

Vivenciar as noites de Cuzco era algo que mais almejava. De todos os comentários que lia na internet sobre a cidade, se falava muito bem das festas que aconteciam especialmente para turistas. Todo mundo sabe que sou muito festeiro e que os ritmos latinos são os meus prediletos na hora de balançar o esqueleto.

Na Praça das Armas ou Central de Cuzco -Peru
Seguindo a orientação do guia, fomos pros bares/boates que ficavam do outro lado da praça. O mais legal é que não se paga para entrar nesses ambientes. Na entrada, você recebe um regalo (presente) dando direito a drinques e bebidas. Pelo que entendi, os bares ficam duelando para quem atraem mais clientes. Nós, que não somos bobos, fomos a todos! Bebi todas as cervejas, copos de cuba livre e margaritas que havia ganhado de cortesia.

Cada casa tinha um ambiente especifico. Havia aquelas que tocavam Cumbia romântica, outra que só tocava música eletrônica (nessa você encontra muito americano), também existe aquela que tocavam rock pesado e outra bem eclética. Num determinado momento de uma das casas adivinhe! O DJ tocou a música do cantor brasileiro Michel Teló (nossa assim você me mata) e Ilariê da Xuxa. As pessoas pulavam, gritavam e rodavam quando tocavam esses hits. Não sabia se caia na gargalhada ou chorava. Mas, resolvi cair na folia e dançar com o pessoal.

Incrível como os brasileiros são bem vindos nesses ambientes. No meu caso, não era muito difícil perceber a minha nacionalidade, já o Emerson muitos ficavam em dúvidas se era boliviano ou até mesmo peruano. Muita gente procurava falar conosco e interagir. Algumas pessoas levantavam o copo, outras pediam para sambar, ou queriam fazer amizade visando a Copa do Brasil.

Vista do quarto do hotel para a cúpula da igreja
Lembro que um alemão começou a conversar comigo em português, daí não conseguia acompanhar meu raciocínio e passou a conversar em espanhol, depois tentou em inglês, e só que eu não entendia (sou péssimo em inglês), arriscou um francês e por fim em libras. Começamos a rir da situação. Mas entendi o seu recado: Ele queria saber se poderia hospeda-lo em minha casa por que em 2014 viajaria para assistir os jogos da Copa do Mundo. Daí, até explicar pra ele onde se localizava o Acre era mais cinco horas de “Torre de Babel”.

Fizemos muitas amizades. Trocamos muitos contatos e principalmente experiências sobre viagens, cotidiano e vida. Infelizmente não encontramos o nosso recém-amigo, Gregory.


Lá pelas tantas da madrugada, Emerson e eu, resolvemos ir dormir. No portão da boate o termômetro registrava 1°C. Apesar de bêbados sentíamos muito frio, mesmo assim resolvemos ir a pé ao hotel e curtir a madrugada tranquila da cidade de 300 mil habitantes fixos. 

VIAGEM AO PERU – O ESTRANHO, O MEDO E O DESEMBARQUE EM CUZCO


Oi pessoal!


Nas ruas de Cuzco o colorido chama atenção dos turistas

Sei que estou ausente desse espaço como um filho que abandonou seu pai no asilo e nunca mais voltou para vê-lo. Quero dizer que nesses tempos a minha vida está atarefada e quando tenho tempinho pra alguma coisa prefiro o descanso; seja sozinho quando ouço minhas músicas, com os amigos numa mesa de bar ou simplesmente com os meus textos de trabalho.

Hoje bateu a saudade de aparecer por aqui, contar um pouco sobre mim, sobre minhas viagens. Por isso resolvi postar algumas histórias que me lembro da viagem que fiz ao Peru (2013) nas minhas primeiras férias do Jornal O Rio Branco.

Bom, a viagem foi ótima e as experiências que tivemos por lá foram as melhores possíveis ainda mais quando você tem ao seu lado pessoas bacanas e um objetivo: Testemunhar o amor.

Ônibus que fizemos o trajeto
Em Agosto de 2013, fui convidado pelo casal de amigos - Ângela Rodrigues (ZÚ) e Francisco Pantigoso (PANT) - para participar da cerimônia de casamentos deles que aconteceu em Lima, capital do Peru. Daí, como viajar sozinho não é muito a minha praia, resolvi convidar o Emerson Barbosa (jornalista de Rondônia) a fazer essa viagem comigo.

PARTIDA

Saímos numa quarta-feira da Rodoviária Internacional de Rio Branco. O valor da passagem ida e volta [Trecho Rio Branco/Porto Maldonado/Cuzco – Cuzco/ Porto Maldonado/ Rio Branco] custou R$ 320 reais pela Movil Tur [Empresa peruana]. Por lá, encontramos um paulista que estava de passagem pela capital do Acre e que pegou o mesmo ônibus que a gente. Seu nome? Gregory Matteucci um sujeito a principio estranho mais que logo conseguiu fazer amizade conosco.
Gregory e Eu no ônibus da Movil Tur

Ás 10 horas nosso bus saiu da rodoviária e partimos para a fronteira (Epitaciolândia/Bolívia) onde fizemos nossa primeira parada para almoçar. Visivelmente ansioso, falei ao Barbosa (Emerson) que não ia almoçar comida brasileira e que daria tudo para provar da culinária dos Andes. Ele, muito fã da comida acreana não perdeu tempo e fez o seu prato estilo pedreiro (uma moita sem fim). Após o almoço, pegamos a estrada e com destino à Assis Brasil (última cidade brasileira na fronteira do Brasil com Bolívia/Peru).

No trajeto, o “comissário de terra” nos entregou um formulário para preencher que facilitaria na saída do país e na entrada do outro. O documento (escrito em espanhol/inglês e português) foi entregue na Aduana em Assis Brasil. Lá desembarcamos e registramos nos documentos junto a Polícia Federal (PF) a nossa saída.

ADUANAS BRASIL/PERU

Aduana em Assis Brasil (AC)
Embarcamos novamente e ao atravessar a ponte que liga dois países, chegamos à Aduana peruana. No desembarcar, vários cambistas querendo trocar o nosso Real por Novo Sol (nuevo soles). Marinheiros de primeira viagem, pedimos ajuda de uma senhora brasileira que morava há dez anos nos Andes Peruano. De tanto tempo que morava lá mal falava o português, mas nos ajudou identificando as cédulas verdadeiras.

Depois de trocar o nosso dinheiro foi à vez de passar pelo setor de imigração. Foi nessa hora que o medo bateu e as pernas ficaram tremulas. Meu documento (RG) estava velho e a possibilidade deles aceitarem, sem o passaporte, era muito pequena. A imigração peruana é muito exigente quanto à entrada de estrangeiros em seu solo. Minutos depois cheguei à sala do chefe da imigração puxei uma brincadeira e dei o documento para carimbar (visto de turismo).  



Wanglézio e o chefe da imigração peruana

Enquanto isso ao lado dele, uns verdadeiros armários (soldados) realizava sua segurança e com a típica cara de mal. Tremi na base quando ele perguntou quanto tempo ficaria no país. Disse a ele que passaria no máximo um mês. Ele perguntou se existia a necessidade desse tempo todo e respondi que não, mais se ele desejasse poderia liberar apenas 15 dias. Ele só olhou pro meu rosto e disse: Listo! (pronto em português).

CONVERSA VAI, CONVERSA VEM

Tudo pronto e mais algumas horas desembarcaríamos na rodoviária de Porto Maldonado. Durante o trajeto, Emerson, Gregory e Eu conversamos muito. Falamos sobre sonhos, frustrações, objetivos, carreiras e até de comida. Um das coisas que não esqueço foi o desafio que o Gregory lançou: “Estou sem rumo na vida. Quero cruzar os Andes a pé. Quero descer e subir esse lugar. Talvez siga viagem até o Equador, Colômbia ou quem sabe a Venezuela. Estou sem dinheiro e vou conseguir fazer esse percurso a pé”, afirmou.

Emerson e eu não estávamos muito acreditando na história, porém, pra nossa surpresa Gregory mostrou sua mochila cheia de alimentos, objetos para acampamento e até um mapa de sua aventura. Enquanto me concentrava na conversa dele, enxergava da janela uma triste realidade da Amazônia Peruana: A ação do homem em busca pela riqueza.

Moeda Oficial da República do Peru
Máquinas pesadas e dragas, muitas dragas na beira da estrada e dentro do rio que corta aquela região. Em um determinado trecho, foi possível contar (14 caminhões) carregados de areia saiam em filas de uma base improvisada da empresa que ali extraia o produto. Registrei algumas imagens, outras ficaram na minha memória.

Devo lembrar que o trajeto foi muito tranquilo. A carreteira (estrada) do lado peruano é linda! Sem buracos, sem desvios, muito bem sinalizada. Não posso afirmar o mesmo sobre nossa estrada brasileira. Parece mais um pedaço de queijo.

Logo, a noite caiu e segundo o comissário de terra chegaríamos ás 19 horas em Porto Maldonado (capital do Departamento de Madre de Dios). A previsão dele falhou e chegamos à cidade ás 20 horas. Desembarcamos e logo achei aquilo tudo muito estranho. A começar pelo clima (17°C) e um vento supergelado. Nossa preocupação foi encontrar o guichê da empresa para fazer a conexão com o outro ônibus que nos levaria à Cuzco. Minutos depois, ficamos sabendo que o bus sairia ás 22 horas.

No desembarque em Porto Maldonado

Rodoviária de Porto Maldonado
Depois de quase 11 horas de viagem a barriga dava sinal de fome. Na rodoviária havia vários biscoitos e pequenos lanches com aparência bem gostosa, mas a fumaça e o cheiro que vinha lá de fora me atraiu. 

Avistamos pequenas barracas que vendiam jantas (cena) e produtos comuns em mercados. De cara, avistei um homem tomando um caldo servido num prato de alumínio com pedaços de frango (Pollo) com batatas e macaxeira (mandioca).

A cena não era das melhores, tendo em vista que ao passo que olhava pra ele logo acima de sua cabeça, no telhado, passou um rato gigantesco (No Brasil seria classificado como uma cutia). Aí a vontade de comer ficou por lá. Emerson se encantou com um prato de Pollo frito com batatas e salada com abacate. Até que curti a ideia, daí fui na opção dele e resolvemos arriscar. Pedi uma coca cola e não tinha. Pedi uma Fanta Laranja, também não tinha. A única coisa que existia ali era água mineral e Inca Kola (tem coloração amarelo-ouro).

Garrafa de Inca Kola 
Pedi a tal Inca Kola e tomei mais da metade pra ajudar a descer. Nossa maior preocupação foi com a saúde, pois afinal, sem ela como viveríamos para contar a história depois?

Depois da gororoba segui as dicas da minha colega, Mircléia Magalhães, de comprar uma pílula para náuseas, enjoos e problemas de pressão por causa da altitude. Procuramos a bendita pílula, mais não havia disponível nas barracas. Até que por indicação de um senhor, encontramos e tratamos logo de tomar para fazer efeito na viagem, afinal, iríamos subir as cordilheiras na madrugada.

CONEXÃO EM PORTO MALDONADO

O tempo passou e o horário do embarque chegou. Fomos os últimos a entrar no ônibus. O Gregory também pegou o mesmo ônibus de conexão que a gente. Ele estava nos procurando desesperadamente pela rodoviária porque ouviu alguém dizer que sairia em poucos minutos. Corremos até o guichê da administração da rodoviária para efetuar o pagamento do imposto de embarque (Aproximadamente 2 Sol Novo). Passagens carimbadas e o embarque feito às pressas.

Chegando ao terminal, pegamos nosso ônibus de três andares, equipado com televisão, poltronas mega reclináveis, banheiro gigantesco e um som ambiente regado ao estilo Cumbia Romântica. Ficamos no primeiro andar lá de cima. Visão privilegiada! Pena que de noite não enxergamos muita coisa, mas o amanhecer foi espetacular. Lembro que na poltrona da frente havia uma família (pai, mãe, um bebê de colo e um menino mais crescido), ao lado três americanas e uma francesa.

Ela recebeu o apelido de "Bonita" por seu charme e carisma
Minutos depois de viagem, o anúncio da Comissária de Terra, apelidada de bonita (porque ela é realmente muito bonita), explicava que ônibus era equipado com calefacción (aquecimento), banheiro que era usado apenas para urinar (ela frisou que era apenas para urinar se alguém quiser fazer o número 2 deveria avisar ao motorista, ele pararia no meio da estrada e a pessoa descia) e que serviria em breve um lanche aos passageiros.

Lanche servido no ônibus
Começamos a conversar, Emerson e Eu, falamos das nossas vidas de jornalistas, das dificuldades de trabalhar na área, dos benefícios de ser um comunicador, conversamos dentre outros assuntos dos amores e das pessoas. O papo ia fluindo muito bem, até que a Bonita (Comissária de terra) veio nos oferecer uma caixinha com bolacha (salgada), um pedaço de bolo de laranja e Cupcake com Inca Kola e água mineral.  Não perdemos tempo e fizemos amizade com ela, porém, a coitada sozinha fazia o serviço de bordo nos três andares e pouco tempo teve para conversar conosco.

Não demorou muito para eu sentir um friozinho a mais, afinal, escolhi o lado da janela, e perceber que os vidros estavam embaçados. Dentro do ônibus pouco se ouvia barulho, só da Cumbia que tocava na rádio interna. Minutos depois a sinfonia de roncos e tosse indicava que as pessoas estavam cansadas, ou dormindo e dando os primeiros sinais da altitude.

Uma horinha depois começamos a subir as cordilheiras. Subíamos em forma de circulo. Subíamos, subíamos , subíamos e foi assim o restante da viagem. Parecia que nunca mais andaríamos em linha reta como na estrada. Lá pelas tantas da madrugada, sem pregar um olho, as meninas do lado começaram a passar mal. Uma delas encheu o saquinho para vomito, outra reclamava de dor de cabeça. Emerson não aguentou e dormiu. Talvez para não testemunhar a cena ou ainda seria a melhor forma de passar aquela experiência horripilante de subir as cordilheiras e não sentir “coisas”.

Descendo, descendo, descendo (...) 
Da janela menos embaçada avistava os paredões de pedras e os carros passando espremidos ao lado do nosso ônibus. A cada ultrapassagem, só Deus sabe o quanto eu morria de medo de bater naquele negócio e cair no abismo. Mesmo assim resolvi ouvir meu MP3 ao som de (Ivan Lins, Caetano Veloso, 14 bis e sertanejo universitário misturado com pop rock). Não custou muito para sentir os olhos pesando. Numa pestanejada e o sono me consumiu.

Tempos depois acordei e nosso ônibus continuava a subir as estradas das Cordilheiras. Olho para o lado e vejo a maioria das pessoas dormindo. Olho pro outro lado e testifico os primeiros raios do sol. Vejo também lá em baixo pequenas luzes acessas (infindáveis pontinhos de luzes) e pensava que estaríamos chegando ao destino: Cuzco.

A viagem prossegue e volto a dormir. De repente, o ônibus começa a descer, descer e descer. Era algo muito rápido como se não estivesse com freios. O meu coração acelerou, comecei a suar e ficar preocupado com a velocidade do ônibus que ameaçava bater nos paredões de pedras ou quem sabe nas carretas que por lá trafegam. Resolvi acordar o Barbosa. O cara também ficou aflito! Não sabíamos se nos despedíamos ou deixávamos recado para nossas mães se alguém sobrevivesse.


Montanhas de gelo nas Cordilheiras dos Andes 

O dia clareou e sou acordado pelo barulho de um senhor que seria o primeiro a descer no trajeto. Lá em baixo ele pegava seus pertences e abraçava sua família. Deu um beijo numa senhora, tal sua esposa, que vestia uma roupa de lã colorida e um chapéu esquisito. Barbosa e Eu, nesse momento, passávamos a lembrar das cenas de terror que vivemos na madrugada. Logo em seguida os outros passageiros também comentavam sobre a viagem.

Nessa altura da viagem as primeiras características de Cuzco se revelavam. Casas bem pobres construídas nas pedras. Na beira da estrada era possível testemunhar a vida no campo rural; animais soltos na estrada, carroças carregadas com alimentos e a famosa folha de coca amontoadas em sacos de fibra.

Nosso café da manhã (Desayuno) foi servido dentro do ônibus. Sucos, bolachas, Inca Kola e Chá foram servidos pela Comissária Bonita. Optei pelos biscoitos que havia comprado no Brasil e tomei suco e Inca Kola. Já o Barbosa foi com o Desayuno da casa.

Tantas horas de viagem e algumas coisas começaram a me aborrecer. O Choro inconstante do bebê da frente, o mau-cheiro insuportável do banheiro e a aflição de sair daquela estrada. Demorou só mais um pouco e depois de 22 horas (de Rio Branco a Cuzco) chegamos à cidade dos Incas.

O DESEMBARQUE EM CUZCO

Na rodoviária a grata surpresa: Não sabia se estava na torre de babel ou encontro internacional de vários países. Pense num lugar cheio de gente de várias partes do planeta! Agora imagine todo mundo gritando e falando alto como se não houvesse o amanhã! Pensou? Pois bem, assim era o ambiente da estranha Rodoviária de Cuzco.

Rodoviária Internacional de Cuzco - Peru
O frio de (10° C + vento gelado) deram ás boas vindas aos turistas medrosos (Emerson e Eu).  No desembarque, comecei a sentir algo diferente. Emerson falava algo e ouvia segundos depois com deley. O corpo pesava muito e era impossível respirar naquele ambiente. Logo pensei: Coisas da altitude.

Pegamos nossas coisas e fomos procurar hotel. Ainda na Rodoviária, no portal de saída, encontramos uma senhora de estatura baixa que vendia estadias. Sua cara não era das melhores. Sei que não podemos e que é deselegante julgar as pessoas por sua aparência, mas seguindo as orientações de quem já visitou o Peru – “Tome cuidado na rodoviária! Cuidado com o golpe! Muitos peruanos gostam de dar golpe nos brasileiros”! – resolvi informar ao Barbosa que negociaríamos com outra pessoal o hotel pois ela não passou confiança.

Barbosa concordou e resolvemos procurar outros agentes de turismo. Demos uma volta na rodoviária e ele encasquetou com essa mulher e resolveu ouvir a proposta. Resultado: depois de muito convencimento ficamos no hotel dela (Tupana Wasi). Pegamos um táxi e ela nos levou para conhecer as instalações.

Rua do hotel Tuapana Wasi

Quando chegamos, paramos o carro no meio da rua e os motoristas começaram a buzinar. Era algo estranho e muito estreito. Daí, começamos a nos familiarizar com ela e o ambiente e aceitamos ficar. A senhora, de imediato, nos ofereceu chá da folha de coca e perguntou se queríamos fazer o Desayuno. Barbosa aceitou, porém, eu só queria dormir e passar aquela coisa ruim. (Continua...)